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quarta-feira, 22 de janeiro, 2025
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Campanha resgata deficiente auditiva de suposta situação de cárcere privado

Mantida em suposto cárcere privado pela irmã e pelo cunhado na Capital, uma mulher de 39 anos foi a primeira vítima de violência doméstica resgatada em Mato Grosso do Sul como resultado da campanha Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica, lançada no dia 10 de junho, em todo o país, como uma nova oportunidade de auxiliar mulheres a romper o ciclo de violência.

A vítima tem deficiência auditiva e veio para Campo Grande, com a filha de três anos, para cuidar do pai doente. No entanto, alega que foi escravizada pela irmã e presa dentro da casa, já que não tinha permissão nem para ir ao médico por causa da depressão, era responsável por todo serviço doméstico, além de cuidar do pai.

Sem saber como fugir dessa situação de violência, a mulher viu a campanha Sinal Vermelho nas mídias sociais, esperou a oportunidade de ficar sozinha em seu quarto, desenhou um X vermelho na mão, fotografou e enviou a imagem por aplicativo de conversa para familiares em Aquidauana, onde tem uma filha casada.

Ao receber a mensagem, a filha pediu ajuda de uma vizinha amiga da família e juntas acionaram as policiais militares do Programa Mulher Segura (Promuse) daquela cidade. Depois disso, foi apenas uma questão de tempo. As policiais pediram auxílio para a sargento do 1º BPM de Campo Grande, Gizele Guedes Viana, do Promuse da Capital, que foi ao endereço indicado para o resgate da vítima.

O relato de Gizele ainda a emociona. Com a voz embargada, ela contou que foi até a residência e, quando viu os olhos da vítima, nenhuma palavra foi necessária. Tudo ficou claro naquele momento. A policial tem um familiar com deficiência auditiva e conhece a linguagem de sinais, o que facilitou a conversa com a vítima.
 
Resgatada, a mulher foi levada para a Delegacia da Mulher (Deam) e passará a noite na Casa da Mulher Brasileira, com a filha pequena, para receber todo apoio e atendimento necessários. Amanhã, os familiares de Aquidauana virão buscá-la.

“A equipe operacional do Pelotão Nova Lima nos apoiou na ocorrência. O que eu senti? Foi emocionante. Uma experiência que vou levar para a vida inteira e olha que tenho 22 anos de PM. Essa campanha tem que ser propagada porque já começamos a ver os resultados”, relatou Gizele.

A juíza Helena Alice Machado Coelho, que responde pela Coordenadoria da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar em MS, destacou a ação rápida da Polícia Militar que, mesmo acionada em outro município, agiu para o resgate da vítima. Ela reforçou a importância da parceria com a PM, que abraçou a campanha em território sul-mato-grossense.

“Fico muito feliz com o resultado da campanha e considero esse primeiro caso em Mato Grosso do Sul emblemático, já que a vítima é uma mulher deficiente auditiva e estava em cárcere privado. Acredito que salvamos duas vidas: da vítima, que fez o X na mão, e da criança que foi encontrada com ela. Revigorada com esse resultado, continuaremos divulgando o sinal vermelho para que mais mulheres sejam salvas”, afirmou Helena.

Para a juíza Jacqueline Machado, da 3ª Vara da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da Capital e presidente do Fórum Nacional de Juízas e Juízes de Violência Doméstica contra a Mulher (Fonavid), com o primeiro caso em MS foi possível perceber que a campanha está funcionando e que é inclusiva, visto que uma pessoa com deficiência consegue obter auxílio por meio do sinal vermelho na mão. Ela apontou ainda o pronto atendimento da Polícia Militar para o sucesso do caso.
“A campanha foi pensada para ser um símbolo e conseguimos ver, com esse caso, que qualquer pessoa entende essa simbologia, não precisa ser somente em farmácia ou drogarias. Como a campanha tem sido muito divulgada, qualquer pessoa pode entender o que o sinal vermelho na mão significa. É um passo muito importante da campanha em MS e tenho certeza que vamos conseguir ajudar muitas mulheres com esse canal de comunicação”, finalizou Jacqueline.

Entenda – A campanha Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica foi lançada em todo o país para oferecer um canal silencioso de denúncia à vítima que, de sua casa, não consegue denunciar a violência sofrida e, ao conseguir sair para dirigir-se à farmácia ou drogaria, pode receber auxílio de um atendente.

Para se identificar, a vítima precisa apenas fazer um X vermelho na mão, mostrar à pessoa que a estiver atendendo, que esta ligará 190 e acionará a polícia. Tudo feito com discrição para não alertar o agressor, caso esteja acompanhando a vítima.

A campanha é do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), em parceria com os tribunais, associações e outros órgãos públicos e privados. Em Mato Grosso do Sul, o presidente do Tribunal de Justiça, Des. Paschoal Carmello Leandro, reuniu-se virtualmente com os magistrados para pedir total apoio à campanha.

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