A vaga está ali, livre, e você tomado pelo tempo acredita que uma breve pausa não irá afetar a vida de ninguém. No ato, usando a sua própria tese como grande justificativa, estaciona o carro no espaço reservado para idosos, pessoas com deficiência ou dificuldade de locomoção e autistas. Muito mais grave do que cometer uma inflação de trânsito é o erro do desrespeito ao próximo, da falta de solidariedade e da humildade para com aqueles que já sofrem.
Quem passou pela Rua 14 de Julho, no centro de Campo Grande, ao longo desta terça-feira (10) foi surpreendido com diversas cadeiras de rodas colocadas nas vagas reservadas aos portadores de necessidades especiais. Cada cadeira trazia uma mensagem alusiva as tradicinais desculpas dos motoristas ao fazerem uso destes espaços, como “já vou sair” ou “é rapidinho”.
A ação intitulada “Esta vaga não é sua – nem por um minuto” é fruto de uma campanha da Subsecretaria de Defesa dos Direitos Humanos de Campo Grande (SDHU) com objetivo de chamar a atenção de todos os cidadãos para conscientizar sobre a importância de manter essas vagas livres para quem realmente necessita desse espaço, garantido em Lei Federal.
“É muito comum encontrar veículos estacionados nessas vagas que são garantidas por lei, sem o cartão de identificação do usuário que é de direito, que são cadeirantes, pessoas amputadas, e com deficiências físicas ou motoras. Outra vaga que frequentemente é desrespeitada são as direcionadas para as pessoas idosas”, explica Amadeu Borges, subsecretário da SDHU.
A campanha é organizada pela Caped (Coordenadoria de Apoio à Pessoa com Deficiência) e alusiva ao Maio Amarelo, que utiliza essa cor em referência ao sinal de advertência no semáforo, que simboliza a atenção necessária para a causa. A ação contou com a participação de dezenas de pessoas, entre cadeirantes, amputados e a comunidade surda que também apoia a causa PCD (pessoa com deficiência). Também houve panfletagem e manifestação com faixas e cartazes.
“Nosso foco hoje aqui foi incomodar mesmo e mostrar a falta de respeito que eles cometem quando param nas nossas vagas. Acredito que um dia não vamos mais precisar fazer isso e que as pessoas vão se conscientizar” aponta Joel Faustino, coordenador da Caped e amputado há 13 anos em decorrência de acidente de trânsito. Segundo Joel, a coordenadoria está refazendo o cadastro municipal de pessoas com deficiência em Campo Grande para localizar onde são os pontos com mais necessidades para promover políticas públicas de forma eficaz para garantir acessibilidade e campanhas em prol da comunidade PCD.
Marcia Romero veio na ação com o filho Caio Henrique, de 25 anos, que produz conteúdos para mídias digitais ressaltando os direitos dos cadeirantes. “A conscientização deveria ser de forma natural, mas como a maioria das pessoas não têm, então, é bom reforçar que a vaga não é deles e tem que ser respeitada sempre. Não temos que ficar brigando por um direito já garantido por lei. Quando paramos na vaga que está sendo ocupada por uma pessoa que não tem deficiência, é um sentimento de frustação tão grande porque vemos que até no trânsito eles são discriminados”, reforça Márcia.
A vaga especial é um direito assegurado por Lei Federal com uso regulamentado por Resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que determina que 2% do total de vagas do estacionamento regulamentado sejam destinadas a portadores com deficiência. Já para a pessoa idosa, é assegurada a reserva nos termos da lei local, de 5% (cinco por cento) das vagas nos estacionamentos públicos e privados, as quais deverão ser posicionadas de forma a garantir a melhor comodidade, de acordo com o Estatuto do Idoso.