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quarta-feira, 25 de setembro, 2024
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Fazenda é ocupada em Rio Brilhante por indigenas e Polícia Militar é acionada

Uma fazenda, em Rio Brilhante, foi invadida e está ocupada por indígenas desde a madrugada desta sexta-feira (03). O grupo sustenta que a propriedade está situada no território Laranjeira Nhaderu, pertencendo aos seus ancestrais.

O Cimi (Conselho Indigenista Missionário) acompanha o caso e apontou que pelo menos 300 famílias vivem em duas comunidades que ficam no entorno da fazenda. A Polícia Militar já foi acionada e está no local.

O Conselho reforçou que uma eventual ação de retomada da sede é ilegal e que há potencial grave de violência contra os indígenas. “A Polícia Militar está ameaçando despejo sem ordem judicial”, destaca o assessor jurídico do Cimi-MS, Anderson Santos.

Ele também lembrou que no ano passado um episódio semelhante resultou na morte do indígena Vitor Fernandes, que foi assassinado e dezenas de pessoas foram feridas na retomada Guapoy, em Amambai.

O objetivo da invasão, ou retomada como queira chamar, segundo a liderança Guyra Arandú é de acabar com as muitas décadas de dureza, fome, violência, racismo, veneno, intoxicação, confinamento, ameaças e trapaças dos fazendeiros.

“Para poder garantir o que está na Lei maior de 88 [Constituição Federal de 1988], mas que o Brasil não cumpre. Só assim as famílias do tekoha [lugar onde se é], nossos velhinhos, nossas crianças vão encontrar dignidade e vão poder viver em paz’’, disse.

A Aty Guasu (Grande Assembleia dos Guarani e Kaiowá), bem como as lideranças de Laranjeira Nhanderu, denunciam há anos que os moradores da fazenda proibiram os indígenas de plantar e tem praticado uma série de violações contra a comunidade, sobretudo despejando agrotóxico por avião sobre as roças e sobre o acampamento dos Kaiowá.

“Mais de 50 famílias vivem em situação desumana, sofrendo todo tipo de violações de Direitos Humanos, estando provados das questões mais básicas”, contextualiza Matias Benno Rempel, coordenador do Cimi-MS.

“Retomar seu território ancestral, para os Kaiowá e Guarani, além de retomar sua cultura e tradições, é retomar a vida, poder plantar e assim combater a fome que em muitos momentos assola a aldeia”, avalia o coordenador.

Fazenda tinha sido ocupada por último há um ano

A Laranjeira Nhanderu está incluído nos estudos da Terra Indígena (TI) Brilhantepegua, ainda em processo de identificação e delimitação – que deveria, segundo o TAC, ter tido sua demarcação concluída no máximo até 2009.

A última vez que os indígenas ocuparam a sede dasta fazenda foi no dia 26 de fevereiro de 2022, na época, a ideia era protestar contra uma espécie de golpe que estava em curso e que prejudicaria o processo de demarcação.

A retomada foi uma resposta à iniciativa de políticos, fazendeiros e agentes de sindicatos patronais locais que pretendiam estabelecer um assentamento rural dentro da área reivindicada e em processo de identificação como terra indígena.

Os indígenas denunciaram, inicialmente, que o pai de um vereador de Rio Brilhante foi, pessoalmente, até as duas aldeias buscando anuência das lideranças indígenas para a constituição do assentamento que seria loteado na área da fazenda “Inho”.

Os relatos indicam que as lideranças foram instruídas a afirmar que a área não estaria dentro estudo da Funai. Este assédio fez com que Kaiowá denunciassem imediatamente a situação ao MPF, à Funai e a apoiadores.

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