Live-action assinado por Greta Gerwig coloca a boneca mais famosa do mundo para lidar com assuntos profundos, mas também entrega humor de sobra e muita emoção
A poderosa campanha de divulgação de Barbie fez com que as expectativas para o live-action da boneca mais famosa do mundo ganhassem proporções gigantescas para muita gente. Afinal de contas, a sensação é que, nas últimas semanas, para qualquer lugar que você olhasse iria “esbarrar” com o mundo cor-de-rosa da personagem.
Além dos materiais de promoção do filme, que estreia oficialmente nesta quinta-feira (20), uma infinidade de produtos tomou conta das prateleiras dos mais variados tipos de lojas. A turnê do elenco por vários países também rendeu cenas que viralizaram na web e tudo foi ampliado quando especialistas em cinema deram suas primeiras impressões, quase todas extremamente positivas.
É fato que expectativas foram criadas, mas não há dúvida de que todas são superadas facilmente. Com um roteiro ousado e complexo, Barbie é mesmo o grande filme do ano até aqui.
Estrela do longa, Margot Robbie revelou em uma entrevista que ficou empolgada ao ler o roteiro pela primeira vez, mas foi sincera, confessando que não imaginava que o filme um dia seria feito. Agora é possível entender exatamente o que a protagonista da superprodução quis dizer. A trama de Barbie parte de uma ideia que, na teoria, é bem simples. No entanto, conforme tudo se desenrola, as coisas vão ficando mais e mais profundas.
Este é um daqueles filmes em que, dependendo do clima, as coisas poderiam ter dado completamente errado, mas as mãos talentosas da cineasta Greta Gerwig conduzem a história para lugares inesperados e muito ricos. A diretora de Lady Bird e Adoráveis Mulheres comprova mais uma vez porque é um dos nomes mais interessantes de Hollywood dos últimos anos.
Não dá para revelar muito da trama, porque é mesmo o fator surpresa que intensifica as sensações de quem assiste: das risadas às lágrimas, das reflexões aos comentários sociais. Além de dirigir o filme, Greta assina o roteiro ao lado do amado, o também cineasta Noah Baumbach, de Frances Ha, História de um Casamento e Ruído Branco. E o casal se mostra afiadíssimo ao criar diálogos potentes. Foi realmente preciso coragem de todos os envolvidos para dar a este universo um tom em que tudo fizesse sentido. E faz.
Entre a ironia e o humor sem filtros, Barbie não perde a chance de fazer críticas e lançar inúmeras alfinetadas, algo que os mais conservadores podem até enxergar como “lacração”, termo que ganhou contexto pejorativo nos últimos tempos. Acontece que o filme não poupa ninguém, sabendo fazer piada com inúmeros temas, incluindo as polêmicas que envolvem a boneca ou a Mattel, empresa que tem os direitos da personagem. Nem mesmo Margot Robbie, que também trabalha como produtora executiva, escapa das brincadeiras.
O maior acerto do filme está em balancear perfeitamente todos esses elementos, fazendo com que nada pareça caminhar para o destino errado. Até mesmo os exageros são propositais, calculados para se encaixar no todo da produção.
A escolha de Margot Robbie já era tida por muita gente como um daqueles casos em que a escalação do artista é inerente ao projeto. Margot casa não somente com o visual clássico do brinquedo, mas traz a energia que você espera de uma personagem como essa. A atriz entrega aqui a performance mais forte da carreira, impressionando com as nuances que explora enquanto Barbie vai questionando o mundo e tentando entender tudo o que está sentindo.
Margot tem excelente timing cômico, que se funde ao humor perspicaz do filme, mas além de arrancar gargalhadas, ela encanta o público. Há uma cena específica em que a estrela consegue passar uma gama de emoções sem dizer uma única palavra. Um momento tocante e poderoso.
A habilidade de Greta Gerwig de captar sentimentos é belíssima e rende cenas como essa acima, que prometem ficar gravadas na mente de muitos dos espectadores. A diretora também impressiona aqui com a preferência por usar muitos cenários reais e efeitos práticos, decisão que dá ainda mais charme a um filme que já tem isso de sobra, em todas as frentes.
O elenco certamente é um dos maiores destaques. Além de Margot, Ryan Gosling brilha como Ken. Sem medo do ridículo, item essencial para o personagem, o ator também consegue se superar e entregar uma atuação que merece ser aclamada. Talvez seja cedo para prever indicações, mas os dois artistas apresentam trabalhos dignos de premiações. E o filme como um todo também tem chances de bombar nos eventos de cinema do próximo ano.
Quem também arrasa em cena é America Ferrera, com um papel menor, mas também de muita importância para a história. Um discurso da personagem rende um dos melhores momentos do filme.
Outro ponto alto é a trilha sonora, assinada por Mark Ronson e Andrew Wyatt, nomes por trás de um dos maiores fenômenos musicais dos últimos anos, a versão com Lady Gaga de Nasce Uma Estrela. Canções de artistas como Lizzo, Charli XCX, Ava Max, Karol G, Fifty Fifty e Kaliii, Nicki Minaj e Ice Spice, Sam Smith, Dua Lipa e Billie Eilish são selecionadas a dedo para os momentos em que são tocadas na projeção.
Fonte: R7