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Governo de Maduro desagrada até a chavistas

05/02/2015 15h00

Governo de Maduro desagrada até a chavistas

Jorge Giordani, ex-amigo e ex-consultor econômico de Hugo Chávez, dispara contra o governo de Nicolás Maduro: ‘Éramos ricos e já não somos mais’

Veja

As equivocadas decisões do presidente Nicolás Maduro na condução da economia da Venezuela desagradam até mesmo os chavistas, reporta o jornal argentino La Nación nesta quarta-feira. Jorge Giordani, que foi o guru econômico de Hugo Chávez por quase 20 anos, está afastado do governo, mas reapareceu para disparar contra a administração das finanças do país. “A Venezuela é o faz-me rir da América Latina”, resumiu Giordani, que foi ministro de Planejamento em quatro oportunidades, entre 1999 e 2013.

“Temos de falar claramente ao país: éramos ricos e já não somos mais”, disse o ex-ministro. Ele também disse que as filas que acontecem todos os dias no país são “um sinal de ineficiência” do governo. O engenheiro, apelidado de “o Monge” e que é considerado uma parte fundamental do dogma econômico da chamada ‘revolução bolivariana’ foi recentemente acusado de “traidor” e “injusto” após a publicação de uma carta criticando o governo. No texto, ele afirma que Maduro “não transmite liderança”, “não compreende os fatos econômicos” e deixa o país em um “vácuo de poder”.

Giordani também denunciou o desaparecimento de 20 bilhões de dólares (mais de 50 bilhões de reais) dos fundos públicos e confessou que a economia da Venezuela foi arruinada para garantir a vitória eleitoral de seu amigo Hugo Chávez. Prosseguindo nas críticas, o ex-ministro afirmou que a Venezuela é “um rei Midas às avessas”, em referência ao personagem da mitologia grega que transformava em ouro a tudo o que tocava. Ele também criticou represálias contra as empresas privadas: “Se as pequenas e médias empresas funcionam bem, deixem-nas tranquilas. Não devemos mexer no que está funcionando”.

A primeira medida contra a crise, segundo Giordani, deveria ser “uma lei draconiana contra a corrupção”. Ele também afirmou que é preciso eliminar a burocracia do Estado. “Não podemos dar ao luxo de manter todo esse aparato” – a Venezuela hoje tem cerca de três milhões de funcionários públicos e uma máquina estatal inchada e ineficiente. Como prova da ineficiência, Giordani citou que mais de 100 ministros já passaram pelos ministérios venezuelanos desde que Maduro assumiu o poder, em 2013.

As críticas contra Maduro surgem num momento delicado da grave crise econômica venezuelana. Nesta semana, o governo mandou prender os donos da cadeia varejistas Farmatodo, umas das maiores do país. Maduro também desapropriou a rede Dia a Dia e uma distribuidora. As empresas foram acusadas de esconder produtos para vender por preços mais altos e provocar filas para “desestabilizar a revolução bolivariana”. Segundo o governo, as empresas importam produtos com dólares do fictício câmbio oficial e os vendem em países vizinhos ao preço do mercado paralelo. A oposição afirma que as vendas paralelas ilegais são feitas, majoritariamente, por indivíduos ligados ao governo.

A entrevista do ex-ministro foi feita para divulgar seu último livro “Del Colapso Rentístico a la Crisis de Legitimidade” (do colapso da renda à crise de legitimidade, em tradução literal). Giordano, que assina seu livro junto com o também ex-ministro Hector Navarro, tornou-se a principal referência crítica de Maduro dentro do chavismo. A Venezuela atravessa uma recessão econômica, tem uma inflação superior a 60% ao ano a moeda mais desvalorizada do continente. O país também enfrenta um gravíssimo desabastecimento de produtos básicos, como farinha, óleo, frango, e de outros produtos, como fraldas descartáveis, remédios e pneus.

O presidente venezuelano Nicolás Maduro (Carlos Garcia Rawlins/Reuters/VEJA)

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