No final do século XIX, quando Mato Grosso do Sul ainda era Mato Grosso, imigrantes de diversos países começaram a chegar à região, entre eles os japoneses. Buscando qualidade de vida e um motivo para recomeçar, tudo alinhado ao perfil produtivo da terra, eles escolheram seguir o caminho da agropecuária, o que ajudou a moldar e impulsionar o desenvolvimento econômico de nosso estado. É esse o panorama que traz o Sistema Famasul neste 25 de junho – Dia Nacional do Imigrante.
Segundo a historiadora do IHGMS (Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul), Maria Madalena Dib, o estado foi escolhido pela quantidade e qualidade das terras. “Aqui é uma abundância de terra; uma terra de qualidade, onde as pessoas poderiam sobreviver, prosperar, com uma boa qualidade de vida”, explica.
“Temos hoje um Mato Grosso do Sul com perfil produtivo cada vez mais diversificado. Os imigrantes, com seus conhecimentos e técnicas diferentes das nossas, contribuíram muito para o avanço de nossas atividades, pois as práticas se complementaram, assim como acontece até hoje com japoneses, holandeses, ingleses, árabes, italianos, alemães e tantos outros povos. É uma rica troca de experiencias no campo que impulsiona o crescimento econômico, ambiental e social de nosso estado”, acredita Lucas Galvan.
Nesse período, o estado começou a oferecer áreas por meio de colônias agrícolas, tornando o agro uma opção de recomeço. É o caso da família de Reinaldo Issao Kurokawa, descendente de japoneses, que foi sócia-fundadora da Camva (Cooperativa Mista de Várzea Alegre), produtora de ovos de galinha e codorna, no município de Terenos.
Hoje, atuando como diretor administrativo financeiro da cooperativa, Reinaldo faz parte da terceira geração no processo de sucessão. “Os primeiros imigrantes chegaram em 15 de maio de 1959. Meus avós e meus pais chegaram em 1960”, relata.
Filho e neto de japoneses, fala com orgulho de como os avós saíram da “terra do sol nascente” e encararam um local desconhecido, no “escuro”, sem falar o idioma e apenas com a promessa do governo japonês de que teriam terras férteis para iniciar a agricultura.
De acordo com Maria Madalena Dib, os imigrantes japoneses vieram para trabalhar na construção de ferrovias, mas essa população tinha muita vocação agrícola. “Eles foram responsáveis em implantar uma nova modalidade de alimentação, introduzindo mais frutas e verduras dentro do ambiente urbano. Isso era muito comum em sítios e fazendas. Mas no ambiente urbano, já não tinha tanto”, explica.
Apesar da família de Reinaldo Issao ter vindo para iniciar práticas agrícolas, ele explica que não tiveram sucesso nos primeiros anos. Após alguns levantamentos da colonizadora Jamic, que também deu o nome à atual região, foi sugerido a criação de galinhas poedeiras e a oportunidade de produzir ovos comerciais, iniciando com 500 aves por família em 1962.
Maria Madalena acredita que imigrantes dentro do setor trouxeram diferenciais. “As práticas que eles empregam são muito produtivas. Muitas dessas práticas vieram e foram incorporadas nesta região”. Esse fluxo migratório no início do século XX, traz uma qualidade de vida, segundo a historiadora, principalmente para a atual capital de MS, Campo Grande, e outras cidades da região como Dourados e Corumbá.
Com mais mão de obra, o comércio começa a ser movimentado. “Esse campo alimenta a população da cidade, mas ele também injeta um dinheiro na questão do manufaturado, que é aquilo que ele não produz nas suas terras. Nesse “troca-troca” todos ganham”, explica Maria Madalena Dib.
Com o sucesso da produção de ovos avançando cada vez mais, o município de Terenos, no auge das comemorações dos 100 anos da imigração japonesa no Brasil, criou a tradicional Festa do Ovo em 2008. Festa essa que segue até os dias atuais, celebrando o recomeço e sucesso do povo imigrante japonês.
Hoje, Reinaldo Issao, expressa sua profunda gratificação por ver que a cooperativa produtora de ovos está gerando emprego e renda para a comunidade de sua região, produzindo alimentos e abastecendo o mercado regional. Essa situação acabou trazendo reconhecimento para a população local. Mas de acordo com o coordenador, não foi fácil. “Isso não é de uma hora para outra que se constrói, com certeza os nossos antepassados fizeram diferença”.
Fonte: Assessoria de Comunicação Sistema Famasul