Vídeo divulgado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), em redes sociais, mostra o momento em que indígenas da Lagoa Panambi, em Douradina, no Mato Grosso do Sul, foram atacados por homens armados, neste sábado (3). Ao menos 10 indígenas Guarani Kaiowá ficaram gravemente feridos. Dois estão em estado mais crítico por terem sido atingidos no pescoço e na cabeça.
A Assembleia Geral do povo Kaiowá e Guarani (Aty Guasu), confirmou que os feridos são membros Guarani Kaiowá da retomada Panambi-Douradina, que foram alvo de “um grupo de pistoleiros das fazendas”.
Uma indígena sobrevivente do ataque, relatou a TeatrineTV como o grupo armado agiu. “Foi um cenário muito aterrorizante. Isso aconteceu à tarde, as duas e cinquenta e seis, eu marquei a hora. Quando os pistoleiros e os fazendeiros chegaram, tinham vários carros e vieram sem piedade. Vieram sem pensar duas vezes, soltaram fogos de artifício e no meio desses foguetes, eles dispararam com as armas de fogo. E no meio de tudo isso tinham várias crianças correndo e não sabiam para onde ir. Tinha jovens, mas os jovens agora tão se sacrificando pela terra. Nós vamos resistir, nãos vamos desistir tão fácil assim”, declarou.
Ainda segundo a sobrevivente, o temor é que em meio a resistência e continuidade dos ataques criminosos, vidas inocentes sejam ceifadas. “Nós vamos ficar e pode acontecer mortes, de novo. Pode acontecer morte! Desculpe alguma palavra errada, por causa que eu estou muito assustada. Eu nasci e cresci em retomada, eu já presenciei assassinatos e é muito, muito assustador. A minha preocupação é as crianças, menor, recém-nascidas”, comentou.
Conforme a indígena, os feridos são em grande maioria pessoas que reagiram. “Quando a gente ouviu os foguetes, os carros vieram com tudo. Tinha mulheres correndo, homem enfrentando, tentando defender seu território”, relatou.
Conforme informações do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), dois indígenas estão em estado greve, e outros seis feridos foram encaminhados para o Hospital da Vida. Depois do conflito, a Força Nacional teria voltado para o território.
“Queremos saber a razão de a Força Nacional ter saído daqui. Os agentes saíram, e o ataque aconteceu. Parece que foi combinado. Queremos entender”, afirmou um indígena Guarani e Kaiowá.
Em relação ao uso da Força Nacional em Mato Grosso do Sul, o Ministério da Justiça prorrogou, em julho, as ações dos policiais para preservar a ordem e a integridade em aldeias indígenas e nas regiões de fronteira, em meio a um quadro de escalada da violência fundiária no estado.
O caso também foi denunciado pela deputada federal Célia Xakriabá (PSol-MG) nas redes sociais. “Nosso mandato recebeu informações de que milicianos ruralistas e seus capangas estão atacando violentamente as retomadas Guarani e Kaiowá, Kurupa Yty e Pikyxyin neste momento, no MS!”, escreveu a parlamentar.
O Ministério dos Povos Indígenas condenou o ataque à comunidade indígena. “Vale ressaltar que as retomadas estão sendo realizadas em território já delimitado pela Funai em 2011. O documento segue válido, porém o andamento do procedimento demarcatório se encontra suspenso por ordem judicial”.
O órgão destacou que uma equipe do ministério, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e do Ministério Público estão no território para prestar o auxílio necessário aos indígenas.
A Delegacia da Polícia Federal em Dourados informou, através da assessoria da PF, que foi instaurado inquérito para investigar o suposto atentado a tiros de quinta-feira. Vestígios foram encaminhados para a perícia. O mesmo procedimento deve ser adotado sobre o ataque de sábado.