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terça-feira, 24 de dezembro, 2024
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Não há folga para quem tem a farda no coração: crônicas de bombeiros

Não há bombeiro que ignore um pedido de socorro, ou o grito de ajuda, a clamação da salvação mesmo não trajando o uniforme da corporação militar. Existem funções que demandam o preparo, agilidade e a atenção constante para manter outra pessoa viva, mesmo que aquele dia, aquele momento, aquele instante tenha sido reservado para ser dedicado exclusivamente à sua família.

O relógio já anunciava 10h40 de sábado (02), feriado alusivo ao Dia dos Finados, quando o telefone de tenente do Corpo de Bombeiros Edilene Borges ecoou pela sua casa, no bairro Jardim Itamaracá, em Campo Grande. A chamada tinha como autor o vizinho, proprietário de um comércio, que trazia na sua voz o apelo desesperador por socorro, já que na frente um cliente, de 49 anos, desabou ante a falta de ar.

Edilene desfrutava de um dia de folga e, mesmo assim, arrancou-se de sua casa na mesma velocidade de carro de bombeiro e chegou ao local para prestar os primeiros-socorros à vítima. O homem estava na calçada, sofrendo uma parada cardiorrespiratória. A tenente não tardou e já iniciou os procedimentos de reanimação. A morte é um profissional que não descansa nem mesmo no dia dedicado a ela.

Edilene Borges pediu ao marido, que acompanhou no procedimento, para que ligasse ao 193 acionando a Unidade de Resgate e Suporte Avançado (URSA), que dispõe dos equipamentos necessários para aquele tipo de ocorrência. Para salvar a vida daquele homem era preciso usar o desfibrilador, um aparelho que produz um choque elétrico no coração para restabelecer o ritmo cardíaco.

“Avaliei e identifiquei que estava em PCR. Estava inconsciente, sem pulso, eu já iniciei as manobras de ressuscitação cardiopulmonar. Segui realizando avaliações entre cada ciclo de manobra até a chegada da viatura. Ao chegar, eles identificaram a possibilidade de usar o desfibrilador e após a intervenção, a vítima retomou a respiração, necessitando apenas de oxigênio suplementar”, contou ela.

Ainda no depoimento, a bombeira disse ter ficado com a sensação de dever cumprido. “Ele retomou também a consciência. Foi muito emocionante. Na hora eu só pensava em manter ele vivo. A gente treina e estuda muito para isso. Acredito também que Deus realmente me usou como instrumento para salvar uma vida. Isso não tem preço”, descreveu Edilene Borges, após o resgate de sucesso.

Na avaliação dela, as intervenções rápidas e o uso do DEA (Desfibrilador Externo Automático) são importantíssimos para aumentar as chances de sobrevida das vítimas em PCR (parada cardiorrespiratória). “O sucesso do procedimento foi graças a uma soma de fatores, tanto do acionamento rápido dos vizinhos, quando do suporte que tive do meu marido e a chegada rápida da equipe da URSA”.

Na oportunidade, a tenente reforçou a importâncias das pessoas serem orientadas sobre como fazer a manobra de ressuscitação. “Poderia ser uma pessoa civil no meu lugar e mesmo assim conseguir auxiliar até a chegada do socorro”, destacou. Edilene Borges realizou o procedimento por cerca de 20 minutos até a chegada da URSA.

Sobremesa de uma bombeira

Não há folga para quem tem a farda no coração: crônicas de bombeiros
Unidade de Resgate e Suporte Avançado – URSA (Foto: Corpo de Bombeiros/ilustração)

Também naquele Dia de Finados, e também em Campo Grande, outra ocorrência de urgência mobilizou outra tenente do Corpo de Bombeiros. Simone Oliveira, que trabalhava como médica na URSA, curtia a folga com um almoço em família em um restaurante situado na Avenida Ceará quando presenciou o pânico de um casal com um bebê de colo que havia se engasgado.

Casada com o subtenente Evandy Segarine, também do quadro dos bombeiros militares, os dois já estavam indo embora para casa e não pensaram duas vezes, indo imediatamente ao encontro do recém-nascido, de apenas um ano. Simone tomou a criança em seus braços, que naquela altura já estava desfalecida, e iniciou a famosa Manobra de Heimlich, procedimento indicado em casos de engasgamento.

A médica intercalou o procedimento com as manobras de ressuscitação cardiopulmonar e conseguiu reanimar a criança. No mesmo tempo em que toda a ação ocorria no pátio do restaurante, o esposo dela já providenciava a URSA para o resgate seguro até o hospital, onde passou por uma avaliação mais detalhada. Por sorte, nada de maior gravidade foi constatado e a menina recebeu alta em seguida.

“Acredito que seja uma mistura de sentimentos. Mas o que se destaca é a gratidão por me usar como instrumento para a vida de muitos nos momentos em que eles mais precisam. E também uma gratidão ao CBMMS, que permite que eu faça parte desta tão honrosa instituição. Resumindo, dever cumprido”, disse ela, ao falar sobre o que sentiu ao realizar o atendimento do bebê.

O esposo Segarini aproveitou para falar da importância dos pais saberem identificar uma Obstrução de Vias Aéreas por Corpo Estranho (OVACE). “Nessa situação a gente estava ali, mas e se não estivéssemos? Nessas duas ocorrências estavam tanto a tenente Simone quanto a tenente Edilene presentes, mas nem sempre isso é possível, o que mostra a necessidade de ter pessoas capacitadas”, frisou, destacando também a outra ocorrência.

Para a população, caso se depare com situações como essa, é importante primeiro tentar identificar o que está acontecendo e acionar o socorro pelo telefone 193, número de emergência do Corpo de Bombeiros. Por telefone, os atendentes repassam todas as orientações para que o comunicante inicie o primeiro atendimento à vítima até a chegada da unidade de resgate. Essa atitude pode salvar vidas!  

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