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sexta-feira, 7 de fevereiro, 2025
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Projeto leva cinema e reflexão a mulheres privadas de liberdade em Campo Grande

“A gente se vê nessas histórias, reflete e muda pensamentos”. A frase, dita por uma das internas do Estabelecimento Penal Feminino de Regime Semiaberto, Aberto e Assistência ao Albergado de Campo Grande (EPFRSAAA-CG), resume o impacto do projeto ‘Conversas com Cinema’, que leva a arte cinematográfica para dentro do presídio.

Mais do que uma simples sessão de filmes, a iniciativa promove acolhimento, reflexão e oportunidades para mulheres que cumprem pena. Criado pela produtora cultural Geiciane Feitosa e por Lukas do Nascimento, o projeto nasceu de uma experiência universitária e, hoje, transforma o cotidiano de dezenas de reeducandas.

Cinema como ferramenta de ressocialização

Iniciado em janeiro e previsto para ser concluído em fevereiro, o projeto é financiado pelo Governo do Estado, por meio da Setesc (Secretaria de Estado de Turismo, Esporte e Cultura) e da Fundação de Cultura, com recursos da Lei Paulo Gustavo. Em 2023, a iniciativa foi realizada com financiamento municipal.

A ideia do ‘Conversas com Cinema’ surgiu durante a graduação de Geiciane em Cinema e Audiovisual na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Como estagiária voluntária do projeto de extensão ‘O Cinema e o Audiovisual na Cidade: Preservação e Educação Para as Imagens e Sons’, coordenado pela professora Daniela Giovana Siqueira, ela acompanhou exibições no sistema prisional.

“Vi como elas se envolviam com as histórias e percebi o potencial do cinema como ferramenta de ressocialização”, conta Geiciane. O projeto se tornou seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e, com o apoio de Lukas, foi inscrito na Lei Paulo Gustavo Estadual, garantindo recursos para sua execução.

Sessões que tocam vidas

O ‘Conversas com Cinema’ funciona como um cineclube, priorizando produções do cinema nacional que dialogam com as experiências das internas. Após as exibições, debates são realizados para que as reeducandas compartilhem suas impressões e façam conexões com suas próprias histórias.

“Nosso objetivo é criar um ambiente sensível e compreensivo, onde elas possam se expressar livremente e sentir que fazem parte de algo”, explica a cineasta.

Em 2024, já foram exibidos filmes como ‘Sai da Frente’ (1952), ‘Dona Lurdes – O Filme’ (2024) e ‘Rio, Zona Norte’ (1957). A escolha das obras é flexível, adaptando-se à recepção das internas. “Precisamos ouvi-las e observar suas reações para selecionar os filmes que mais fazem sentido para elas”, diz a coordenadora.

Cada interna que participa das atividades recebe remição de um dia de pena a cada 12 horas envolvida na atividade. No entanto, o impacto vai muito além da redução da pena, proporcionando uma nova perspectiva para o futuro.

Os depoimentos mostram a importância do projeto: “O tempo passa e aprendemos diversas coisas”, revela uma participante. Outra acrescenta: “Eu espero chegar do trabalho para começarem a sessão!”.

Um futuro além das telas

O impacto do projeto também se reflete no pós-prisão. “Uma ex-interna nos encontrou e disse que sente falta das sessões, que participava de todas. As policiais relatam que as internas ficam ansiosas, sempre perguntando quando será a próxima sessão”, comenta a coordenadora.

Diante do sucesso da iniciativa, os organizadores sonham em expandi-lo para outros espaços de vulnerabilidade social. “Nosso desejo é que mais mulheres tenham essa oportunidade. O cinema transforma, ensina e pode ser o primeiro passo para uma nova caminhada”, reflete Geiciane.

O cineclube também se soma a outras iniciativas educacionais do presídio, como remição de pena por leitura, palestras e rodas de conversa com psicólogos. Com histórias que inspiram e emocionam, o ‘Conversas com Cinema’ busca demonstrar na prática que a cultura tem o poder de ressignificar vidas e abrir portas para um futuro diferente.

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