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terça-feira, 15 de abril, 2025
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No Dia do Jornalista, uma pergunta: como vencer as fake news?

Pesquisadores avaliam estratégias para combater desinformação

Em um cenário cada vez mais dominado por conteúdos duvidosos e sensacionalistas, o jornalismo profissional enfrenta um dos maiores desafios de sua história: conquistar a atenção e a confiança do público em meio à avalanche de desinformação. A disputa, marcada por postagens com aparência de denúncia e estética informal de um lado, e reportagens apuradas e verificadas de outro, ganha ainda mais relevância nesta segunda-feira (7), data em que se celebra o Dia do Jornalista.

Pesquisadores ouvidos pela Agência Brasil alertam: o que está em jogo vai além da reputação da imprensa — trata-se da garantia de um direito humano fundamental, o acesso à informação de qualidade, e da própria saúde da democracia.

Segundo a professora Silvia Dal Ben, pesquisadora brasileira na Universidade do Texas (EUA), a chamada “democratização” trazida pela internet nos últimos 30 anos permitiu o acesso amplo à produção e circulação de conteúdos. Porém, esse avanço também escancarou espaço para distorções. “É como se a gente vivesse hoje numa Torre de Babel. As pessoas se comunicam, têm muita informação, mas parece que não se entendem”, explica.

Para ela, o jornalismo caiu numa armadilha ao tentar se adaptar demais ao modelo de comunicação instantânea da internet. “A gente abriu espaço para uma alfabetização de conteúdo digital muito superficial. Precisamos mudar essa mentalidade e abandonar o hábito de produzir notinhas mal apuradas e pouco aprofundadas”, critica.

Combate criativo

Uma das estratégias citadas por especialistas para reconquistar o público é aproximar a estética dos conteúdos jornalísticos à dos formatos mais populares nas redes sociais, sem abrir mão da responsabilidade e da checagem. É o que defende a professora Fabiana Moraes, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), premiada por reportagens focadas em direitos humanos.

“A estética é a forma, mas ela pode ser preenchida com conteúdo profissional, bem escrito e apurado. Ou seja, com jornalismo”, argumenta.

Ela observa que as fake news atraem justamente por usar artifícios de apelo emocional, sensacionalismo e desconfiança, o que exige, do jornalismo, novas formas de disputa nas redes sociais e também fora delas.

Novos caminhos e desafios

Distribuir bem o conteúdo é outro ponto-chave. Para Dal Ben, jornalistas e veículos precisam usar as mesmas ferramentas de influenciadores digitais, oferecendo informação confiável em múltiplos formatos e plataformas. A professora Thaïs de Mendonça Jorge, da Universidade de Brasília (UnB), destaca ainda a necessidade de se repensar como chamar a atenção do público em um país com queda no hábito de leitura.

“Precisamos fazer com que as pessoas entendam como os temas abordados impactam diretamente suas vidas”, afirma. Thaïs organizou o livro Desinformação – O mal do século, lançado em parceria com o Supremo Tribunal Federal.

Já o pesquisador Josenildo Guerra, da Universidade Federal de Sergipe (UFS), aposta na criação de novos produtos jornalísticos, que combinem qualidade e apelo narrativo. “As fake news operam com informações truncadas e fáceis de consumir. Precisamos investir em conteúdos que informem sem perder o interesse do público.”

Confiança como trunfo

Na avaliação da presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Samira Castro, o diferencial do jornalismo está no compromisso com a verdade, com a escuta plural e com a responsabilidade pública. “Quando conseguimos traduzir temas complexos com rigor e sensibilidade, conquistamos a confiança. E é essa confiança que pode vencer o ruído das mentiras”, afirma.

A receita para o futuro, segundo ela, não está apenas em novas formas ou tecnologias, mas em manter os pilares éticos da profissão. “A credibilidade, construída com ética e consistência, é o nosso maior trunfo nesse duelo.”

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