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Fome e frio em Paris até virar doutor essa é a história do jornalista que deixou Campo Grande

05/07/2015 09h00

Fome e frio em Paris até virar doutor essa é a história do jornalista que deixou Campo Grande

Quando o jornalista Mario Pinheiro deixou para trás a segurança de Campo Grande e se aventurou no velho continente, ele imaginava que muitas dificuldades apareceriam.

No percurso até o diploma de mestre em uma universidade parisiense, Mario precisou se virar com os poucos pertences que carregava na bagagem e na carteira para conquistar o objetivo, mas nem todas as suas previsões seriam suficientes para enfrentar a fome e o frio durante cerca de seis meses.

“Passei muita fome, mas muita fome mesmo. Cheguei aqui com 70 quilos em setembro de 2000, e três meses depois eu pesava 48 quilos”, afirma.

Mario durante a formatura em doutorado na França. (Foto: Arquivo Pessoal)
Mario durante a formatura em doutorado na França. (Foto: Arquivo Pessoal)
Atraído pela oportunidade de se tornar mestre em Sociologia da Comunicação, pela Universidade Paris 9 – Dauphine, Mario decidiu se aventurar na capital francesa.

Mas, a dificuldade em arrumar emprego e se estabilizar acabou o obrigando a dormir em estações de metrô e até buscar alimentos no lixo. “Tive que apelar, comi pão do lixo. Essa crise foi durante o mestrado, eu nunca tive bolsa, então para economizar o pouco dinheiro que eu trouxe eu enganava a fome comendo açúcar e pó de chocolate. Mas quando as pernas começaram a tremer eu fui ao cesto de lixo”, relembra.

Para dormir, sem estádia fixa, o jeito era se aventurar nos albergues ou encontrar um lugarzinho na estação de trem. Com o inverno, a temperatura ambiente era de 8 graus, isso sem contar a sensação térmica, que normalmente é menor ainda.

“Eu passava o dia na universidade e dormia na estação de trem. Depois consegui alugar um quarto de 8 metros quadrados pra pagar 330 euros mensais, mas o quarto não tinha energia elétrica, nem aquecedor. Passei muito frio, mas ao menos tinha onde repousar. Como o inverno era muito gelado e eu não tinha eletricidade, não tomei banho por vários e vários dias”, confessa.

Ao menos, segundo ele, isso não era um costume muito diferente dos franceses. “Não é lenda. Aqui eles não tomam muito banho mesmo”, brinca.

Depois de “zanzar” pelas estações de trem e conseguir o quarto, Mario teve a oportunidade de se inscrever nas vagas de emprego. “Era preciso ter endereço fixo”. Dessa forma, veio a primeira oportunidade como segurança de um museu. “Mas a vaga não abria, eu estava no desespero e então houve um ato terrorista no WTC/EUA e o escritório finalmente me chamou para trabalhar”, diz.

Esse foi o ponto decisivo para Mario. Com o emprego e os estudos na universidade, ele começou a vencer a fome e o frio. “Fui trabalhar de segurança no aeroporto de Roissy por um tempo, depois me enviaram para os museus de Paris. Eu não tinha experiência nenhuma. Eu havia tentado outros trampos, mas nada tinha dado certo”, explica.

Mesmo em meio a tantas adversidades, pergunto instintivamente porque Mario não voltou para o Brasil, onde tinha mais estabilidade. Para ele, isso estava fora de cogitação.

“Porque é essa a resistência de quem quer chegar em algum lugar. Não desisti porque a vida é feita para navegar, para continuar toda batalha sem desistir. A resistência tem mais gosto quando o fim é coroado. A persistência é muito linda quando a gente não atropela ninguém pra chegar onde queremos”, acredita.

Dois anos depois, com o fim do mestrado, o jornalista ainda teve a oportunidade de voltar, mas decidiu seguir com os estudos e entrar em um doutorado.

“Meu doutorado é em ciências políticas. Depois que comecei a trabalhar, as coisas melhoraram. A agência de segurança onde eu trabalhava me dispensou, após um ano, sem justa causa. Então entrei na justiça do trabalho contra eles, e ganhei a grana que deu pra pagar aqueles que me emprestaram dinheiro”, aponta.

Com a indenização, Mario ainda custeou o doutorado, que foi defendido em setembro de 2013 e iniciou uma nova vida em Paris. “Já tinha até engordado. Arrumei uma pessoa, me casei com ela, depois obtive a nacionalidade francesa. Nós casamos em dezembro de 2006, mas já vivíamos juntos antes”, esclarece.

Morando na zona central de Paris, o jornalista trabalha com alunos com deficiência em uma escola da região. Apesar de todos os pesares, Mario fala que a tranquilidade da experiência é revivida graças ao livro que ele escreveu e será lançado no dia 11 em Campo Grande.

“Hoje eu me sinto leve falando disso tudo, porque escrevi o livro “A Resistência Coroada”. Falo de tudo um pouco, dos costumes franceses, do banho que eles tomam de vez em quando”, diz, mais uma vez, com bom humor.

O lançamento do livro vai ser a partir das 19h00, no Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul. O instituto fica na avenida Calógeras, 3000, na região central de Campo Grande.

Com Informações do Campo Grande News

Mario Pinheiro foi estudar em Paris e precisou vencer a fome e o frio. (Foto: Arquivo Pessoal)

Mario durante a formatura em doutorado na França. (Foto: Arquivo Pessoal)

Mesmo apesar das dificuldades, Mario acredita que a vida é feita para

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