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Automutilação entre jovens precisa ser vista com seriedade por famílias

06/03/2014 14h42 – Atualizado em 06/03/2014 14h42

Automutilação entre jovens precisa ser vista com seriedade por famílias

Raquel Alencar

A mãe de uma adolescente de 12 anos comentou, com muita preocupação, que na escola em que a garota estuda, muitos alunos estavam praticando automutilação: com giletes e facas, faziam cortes pelo próprio corpo. Assustada com os fatos, ela orientou a filha a jamais fazer isso. Até porque, devido aos seus próprios dramas pessoais, teme que ela use tal método para esquecer suas próprias mazelas.

Esse tipo de mutilação é conhecido como cutting – palavra inglesa que significa coisa cortada, incisão e talho, entre outros. Realmente, tem aumentado a incidência deste fenômeno entre a população mais jovem. Há, inclusive, blogs na internet em que seus praticantes contam o que fazem e postam fotos.

A adolescência é uma época propícia para que determinados comportamentos que fogem à regra apareçam, sendo que alguns deles podem virar moda. Basta observarmos alguns adolescentes: todos se vestem e se penteiam da mesma forma. Outras coisas também são copiadas por eles, como cortar o próprio corpo.

Neste caso, porém, não devemos banalizar e achar que é apenas uma moda passageira. Este problema deve ser considerado como algo preocupante. O indivíduo que se corta geralmente apresenta um transtorno de personalidade e se automutilar é um de seus sintomas. Mesmo não sendo regra, em alguns casos mais graves o indivíduo pode tentar se ferir de maneira mais violenta, levando a danos maiores e até fatais.

Mas por que uma pessoa na flor da idade, como se diz no popular, chega ao ponto de se cortar? Algumas hipóteses tentam explicar o fenômeno, como por exemplo, a de estar no controle de sua própria dor. A física é mais fácil de dominar que a psíquica.

As dores da alma não conseguimos localizar, ou colocar algum remédio. De certo modo, isso vai de encontro à busca através da dor de se sentir vivo. Às vezes a angústia exacerbada leva a certo estado de não se sentir real, como se a dimensão física não existisse. A dor lembra que ele tem um corpo – existência concreta e real.

Outra ideia é de que a intenção de quem se fere é de se punir por algo que fez. O que tem corroboração na história da própria igreja católica, com a prática do autoflagelo: o indivíduo se tornava mais puro e pagava seus pecados. Algo que encontramos também na tragédia de Édipo, que arrancou os próprios olhos devido à culpa de ter matado o pai e desposado a mãe.

Provavelmente cada indivíduo que o pratica poderá dar uma explicação para suas próprias ações. O certo é que há um sofrimento que não pode ser desprezado.

É muito importante que a escola e a família estejam atentas aos adolescentes que venham praticar o cutting. Caso a escola seja a primeira a perceber, deve comunicar os pais e não simplesmente achar que é um fenômeno passageiro ou da moda. Não, não é. Pode acontecer de um imitar o outro? Sim, mas mesmo se for uma imitação, podemos pensar que ao menos naquele momento há algo preocupante com o filho. É possível imitar tantas coisas, se escolhemos o sofrimento, podemos colocar em dúvida a normalidade desta escolha.

Ao tomar consciência da situação do filho, os pais devem procurar ajuda profissional. Geralmente uma ajuda psiquiátrica é necessária, aliada a psicoterapia.

E no caso de sabermos que os colegas dos nossos filhos praticam isso, como a mãe citada, devemos proibir a amizade? Com os adolescentes é o pior caminho. Até porque, este amigo vai precisar de seus amigos. No entanto, é preciso que seja esclarecido ao jovem o quadro pelo qual seu colega passa, sem recriminações ou julgamentos morais.

Se o seu filho tem essa possibilidade de conversa com você, muito provavelmente ele não entrará nesta enrascada. Ele sente que é possível confiar no outro e pedir-lhe ajuda. Que bom que ele tem pais que possam ouvi-lo.

Fonte: Google-Imagens

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