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A importância da pesquisa científica para a agropecuária

22/05/2020 06h26
Por: Fernando Mendes Lamas

A agricultura é provedora principalmente de alimentos, fibras e energia para a sociedade. Graças aos avanços do conhecimento, gerados pelas instituições de pesquisa, a agricultura brasileira tem sido capaz de abastecer o mercado local e ainda exportar para diversos outros países ao redor do mundo. Somos grandes exportadores de soja, algodão, suco de laranja, carnes, dentre outros produtos oriundos da agricultura.

Dentre os diversos setores da economia, a agricultura tem apresentado continuamente superávit da balança comercial. A sua participação no PIB é de 23,5%. De tudo que o Brasil exporta, os produtos da agricultura contribuem com mais de 40%, sem contar a importância do setor para a geração de emprego que vem mantendo saldo positivo durante os últimos anos.

A pujança da agricultura contemporânea está apoiada na ciência, na capacidade empreendedora dos agricultores e na capacidade dos profissionais que dedicam à assistência técnica, pública e privada de interiorizar as modernas tecnologias. Mesmo em momentos difíceis como o que estamos passando, não existe desabastecimento.

Até que o arroz, o feijão, o tomate, a carne e o leite, por exemplo, cheguem à mesa dos consumidores, um enorme número de atividades e processos são necessários, a começar pelo trabalho do agricultor, daqueles que desenvolvem as máquinas e os implementos, os insumos e as tecnologias de produção. Isso tudo envolve gente e conhecimentos.

Sem minimizar a importância de outros segmentos, a ciência tem sido decisiva para que possamos ter, em ambiente tropical, a agricultura que temos. O cultivo do trigo na região do cerrado, a produção de azeitona no sul de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, o cultivo da soja e da cana-de-açúcar em todas as regiões brasileiras, a produção de uvas e vinhos na região semiárida, a produção de suínos, aves e peixes

em sistemas intensivos de produção, são alguns exemplos daquilo que a ciência fez para que pudéssemos ter a agricultura que temos hoje.

Graças ao avanço do conhecimento científico, a produtividade da agricultura aumentou significativamente nos últimos 40 anos. Para ter ideia, vamos considerar o que aconteceu com a soja, cuja produtividade, de acordo com a Conab, cresceu 86% nos últimos 40 anos. Assim, se fosse mantida a produtividade de 40 anos atrás, teríamos que estar cultivando 68 milhões de hectares contra os 36,8 milhões que foram efetivamente cultivados na última safra, para que pudéssemos produzir o que estamos produzindo. Na pecuária de corte também se tem constatado avanços significativos. A área ocupada com pastagens passou de 192 milhões de hectares em 1990 para 163 milhões em 2018. No entanto, a produtividade do rebanho brasileiro saltou de 1,7 @/ha/ano para 4,5 @/ha/ano. Com isto, o Brasil aumentou a sua produção de carne bovina e liberou área antes ocupada com pastagem para agricultura. Por oportuno, cabe destacar que, além do aumento da produtividade física, a tecnologia proporcionou vários outros avanços, de tal forma a permitir a produção de alimentos suficientes para garantir a segurança alimentar da população, tanto sob o aspecto quantitativo quanto qualitativo.

Quando nos referimos à ciência estamos falando dos conhecimentos gerados pelas Universidades, pelo Instituto Federal, pela Embrapa, pelas organizações estaduais de pesquisa e pelas instituições privadas que também fazem pesquisa e desenvolvimento. O modelo de pesquisa agrícola que foi implantado no Brasil, no início dos anos de 1970, sob a liderança da Embrapa, que antes de tudo, preocupou-se prioritariamente em capacitar seus pesquisadores, através de cursos de pós-graduação em nível de Mestrado e Doutorado, foi fundamental para que chegássemos onde estamos. No entanto, devido aos grandes desafios que temos pela frente, faz-se necessário esforços cada vez maiores para que possamos continuar provendo a sociedade de conhecimentos que, ao serem adotados pelos produtores e conseguintemente aos sistemas de produção, promovam inovação. É preciso produzir mais e melhor, garantindo a segurança alimentar. A sociedade demanda produtos oriundos da agricultura, mas exige que esses produtos tenham determinadas características qualitativas, atendendo aos preceitos da sustentabilidade e do valor nutricional. Outro aspecto a considerar é o respeito com o meio ambiente. Hoje, graças

aos conhecimentos e recursos técnicos disponíveis, não se admite mais degradação do solo. O sistema plantio direto – rotação de culturas, não revolvimento do solo e solo permanentemente coberto com algum tipo de vegetação –, é o mais adequado sistema de manejo de solo para as condições do Brasil. Ainda precisamos avançar muito na área do controle biológico de pragas, doenças e nematoides. A pesquisa brasileira está fortemente engajada na busca de soluções alternativas, visando cada vez mais contribuir com a sustentabilidade (durabilidade) dos modelos de produção agrícola.

Embora tenhamos crescido muito, o que coloca o Brasil na liderança da produção agrícola mundial, para que possamos continuar, precisamos avançar e/ou consolidar avanços, com grandes investimentos em ciência nas áreas de sanidade animal, sanidade vegetal e climatologia. Esses são apenas alguns exemplos do quanto a jornada ainda é longa.

A agricultura se reveste da maior importância, tanto para aqueles que moram no meio rural quanto no meio urbano, pois todos necessitam de produtos oriundos da agricultura. Conseguimos avanços significativos, graças aos investimentos em ciência e tecnologia, mas ainda é preciso investir muito para que não se tenha qualquer contratempo em relação à produção agrícola, que é a base da alimentação humana. Compreender a nova lógica da produção de alimentos, energia e fibras e suas relações com a sociedade e com a sustentabilidade, deve estar no radar de todos aqueles envolvidos com a agricultura.

Fernando Mendes Lamas – [email protected]

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