O preço do café torrado e moído no varejo disparou nos últimos cinco anos no Brasil. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), o quilo do produto custava, em média, R$ 16,78 em janeiro de 2020. Em janeiro de 2025, esse valor saltou para R$ 56,07, representando um aumento de aproximadamente 234%.
A alta afeta diretamente os consumidores, tornando um dos itens mais tradicionais do café da manhã brasileiro cada vez mais caro dentro da cesta básica.
Motivos do aumento
De acordo com a Abic, diversos fatores contribuíram para esse aumento expressivo:
- Custos de produção elevados: o preço da matéria-prima subiu mais de 224% nos últimos quatro anos, enquanto o preço do café ao consumidor aumentou 110%.
- Oscilações do mercado internacional: variações no valor do grão impactam diretamente o preço do produto no Brasil.
- Mudanças climáticas: eventos extremos como geadas e secas reduziram a oferta do grão, elevando os preços.
- Inflação dos insumos agrícolas: aumento significativo dos preços de fertilizantes, combustíveis e embalagens encareceram o produto final.
Perspectivas para os próximos meses
Segundo Celírio Inácio, diretor-executivo da Abic, o setor tem tentado minimizar os repasses ao consumidor, mas o impacto dos custos tem sido inevitável. “Nos últimos quatro anos, a matéria-prima aumentou 224%, e o café no varejo aumentou 110%. No último ano, a variação de preço ao consumidor foi de 37,4%, muito acima da média da cesta básica, de 2,7%”, destacou o diretor.
A Abic prevê que os preços do café devem continuar em alta nos próximos três meses, com reajustes entre 15% e 20%. No entanto, existe a expectativa de estabilização a partir de abril, caso a produção nacional tenha um bom desempenho e as condições climáticas sejam favoráveis.
Consumo segue em alta
Apesar do aumento dos preços, o consumo de café no Brasil segue crescendo. Em 2024, o consumo interno subiu 1,11% em relação a 2023, atingindo 21,9 milhões de sacas, equivalente a 40,4% da safra nacional.
O Brasil continua sendo o segundo maior consumidor de café do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Entretanto, no consumo per capita, os brasileiros superam os norte-americanos: cada pessoa consome, em média, 6,26 kg de café cru por ano, ou 5,01 kg de café torrado e moído.
A maior parte do consumo de café em 2024 está concentrada na região Sudeste. O produto segue como a segunda bebida mais consumida no país, perdendo apenas para a água.
Impactos no comportamento do consumidor
O alto preço do café tem levado muitas famílias a buscarem alternativas para economizar. O economista e professor da Universidade Mackenzie, Hugo Garbe, explica que esse fenômeno pode gerar um “efeito substituição”, onde os consumidores buscam opções mais baratas.
“Primeiro, as pessoas tentam consumir uma marca de café um pouco mais barata, que muitas vezes tem qualidade inferior. Além disso, muitas famílias tendem a reduzir a quantidade de café que consomem ou usar menos pó na preparação para que renda mais”, explica Garbe.
Faturamento da indústria
A indústria de café torrado faturou R$ 36,82 bilhões em 2024, um crescimento de 60,85% em relação a 2023. Esse aumento no faturamento, no entanto, foi impulsionado principalmente pela alta dos preços, enquanto as margens de lucro seguem pressionadas pelos custos elevados da matéria-prima.
Celírio Inácio destaca que, apesar do desempenho positivo, a indústria enfrentou desafios. “O setor teve que lidar com um aumento de mais de 116% no custo da matéria-prima. Mesmo diante da necessidade de repassar parte desse impacto ao varejo, a estratégia foi cautelosa, e conseguimos transferir apenas 37% do reajuste ao longo do ano”, afirma o diretor-executivo da Abic.
Outro fator relevante tem sido a busca por qualidade e certificação no setor. Em 2024, a Abic certificou 278 novos produtos, com crescimento expressivo em categorias como cafés especiais (85%) e gourmets (17%).
Com a alta dos preços e os desafios do setor, a indústria segue buscando equilíbrio entre a manutenção da qualidade e a viabilidade econômica, enquanto os consumidores tentam se adaptar ao novo patamar de preços do café.