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quarta-feira, 5 de fevereiro, 2025
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Aquífero Guarani: estudo alerta sobre risco de esgotamento por chuvas insuficientes

O aumento da temperatura do planeta faz a água da pouca chuva evaporar mais rápido, muito antes de se aprofundar no solo. E a água que desce chega ao aquífero muito devagar.

O Aquífero Guarani, uma das maiores reservas de água doce do mundo, que abrange sete estados brasileiros, além de partes do Paraguai, Uruguai e Argentina, está em processo de esgotamento. Um estudo da Universidade Estadual Paulista (Unesp) revelou que as chuvas atuais não são suficientes para repor o volume de água retirado dessa importante fonte.

Os efeitos da seca histórica são visíveis no nosso dia a dia: queimadas, leitos de rios expostos e reservatórios em níveis críticos. No entanto, o impacto também ocorre de forma invisível, nas profundezas do solo, onde se encontra a fonte de parte da água que ainda temos na superfície.

Essa imensa reserva subterrânea, está secando, com mais água sendo extraída do que reposta.

O Aquífero Guarani está localizado na região centro-leste da América do Sul, ocupando uma área de 1,2 milhão de km². Ele se estende pelo Brasil, que abriga a maior parte da reserva (840 mil km²), além do Paraguai (58,5 mil km²), Uruguai (58,5 mil km²) e Argentina (255 mil km²).

Essa vasta reserva subterrânea de água doce tem uma área maior do que a soma dos territórios da França, Espanha e Inglaterra. Aproximadamente dois terços de sua extensão estão em território brasileiro, abrangendo os estados de Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

No Mato Grosso do Sul, a área de afloramento mais significativa do aquífero abrange cerca de 31.299 km², localizada principalmente nas regiões nordeste e parte do sudoeste do estado, englobando grande parte da bacia hidrográfica do Alto Taquari.

Entre os municípios de maior relevância nessa área estão São Gabriel do Oeste, Coxim, Camapuã, Alcinópolis, Pedro Gomes e Sonora. Outra porção do aquífero está situada a oeste de Campo Grande, estendendo-se até o Paraguai.

Aquífero Guarani: estudo alerta sobre risco de esgotamento por chuvas insuficientes

Didier Gastmans, professor da Unesp, monitorou o Aquífero Guarani por oito anos utilizando técnicas avançadas com isótopos de hidrogênio e constatou um problema claro: a falta de chuva suficiente para reabastecer o aquífero. “Não estamos recompondo o que retiramos, e a água está sendo usada para diversos fins”, explica Gastmans, do Centro de Estudos Ambientais da Unesp em Rio Claro.

O Aquífero Guarani é essencial para o abastecimento de mais de 90 milhões de pessoas no Brasil. A irrigação agrícola é o segundo maior consumidor. O cenário futuro não é promissor. Com o aumento da temperatura global, a pouca chuva que cai evapora rapidamente, antes de se infiltrar no solo. E quando a água consegue penetrar, sua movimentação até o aquífero é extremamente lenta.

“Essa água se move a uma taxa de centímetros por ano. Muitas dessas águas têm mais de 100 mil anos, ou seja, elas se infiltraram há mais de 100 mil anos”, ressalta Gastmans.

Diante desse panorama, é urgente adotar medidas para evitar o esgotamento completo do aquífero. “Precisamos de um sistema de monitoramento quase em tempo real que nos indique quando usar a água superficial e quando recorrer à água subterrânea, de forma compatível com a capacidade do aquífero”, alerta Gastmans.

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