O que passa pela cabeça de alguém que está diante da morte? Seria a retrospectiva da vida, a reflexão do irreparável, aquilo que faltou fazer para completar os objetivos que traçou, ou uma conversa com Deus clamando por um milagre e a salvação. Só quem já enfrentou essa situação é capaz de responder e uma dessas pessoas é o senhor Sebastião Dias Barbosa, de 79 anos, que contou ao Enfoque MS a sua história de superação.
Foi em meados de abril do corrente ano. Sebastião estava na sua chácara, na zona rural de Rochedo, quando foi apartar o gado de sua criação por conta da chuva que estava por vir. O relógio já passeava pela casa das 14 horas e o idoso percorreu, sozinho, cerca de mil metros até o pasto.
Durante o ato, uma vaca que estava acompanhada do bezerro investiu contra o criador. Ouviu-se o mugido enfurecido do animal e Sebastião, refém da insegurança, se protegeu atrás de uma aroeira. Os momentos de pânico começaram ali. Sozinho, tentou dispersar o gado para conseguir fugir, mas não obteve o êxito.
O ataque das vacas
“A vaca começou a sapatear contra mim. Para me proteger, apaziguei com uma aroeira e, mesmo assim, ela batia a cabeça para tentar derrubar. Como não conseguiu, passou a rodear. Acho que se sentiu ameaçada e queria proteger o filhote, mesmo já me conhecendo há muito tempo”, contou o sitiante.
O alívio surgiu com a chuva, que caiu repentinamente e fez o rebanho ir para outra parte do pasto. Entretanto, quando Sebastião retornava para a sua casa foi surpreendido novamente. Houve o estouro da boiada e todas as suas 40 vacas surgiram correndo, atropelando-o e o arrastando pelo chão de terra e o mato molhado.
“Caminhava para minha casa, mas logo na sequência, para minha surpresa, todo o rebanho me atingiu pelas costas. Deram uma cabeçada e fui ao chão, depois o gado passou a me grudar com o focinho e a jogar e arrastar para um lado e para o outro até que a chuva cerrou e foram embora. Sorte que os chifres não me atingiram”, detalhou.
O sitiante caiu ferido, derrotado, exausto. Ainda com suas poucas forças, arrastou-se por alguns metros até sucumbir. Enfraquecido e solitário, já não tinha forças sequer para gritar por socorro. Os ferimentos que as vacas lhe causaram impediam de conseguir levantar, restava apenas a esperança de surgir logo alguém para socorrê-lo.
A esperança não morreu
“Sentia dor no corpo inteiro. Fui arrastando até chegar na cerca e no poste, onde consegui me levantar. Andei por quase 10 metros até não aguentar mais e cair novamente. Não tinha avisado a minha esposa sobre aonde iria ou o que pretendia fazer e ali fiquei, no meio da vegetação e da chuva, que hora vinha e hora passava”.
Foram aproximadamente seis horas numa solitária, suportando a dor e dialogando com os próprios pensamentos e rezando por um milagre. No mesmo tempo em que Sebastião lutava contra a morte, sua esposa já tinha acionado os filhos e os vizinhos devido ao paradeiro do marido.
Um mutirão foi formado vasculhando cada ponta da Chácara Fortaleza, até que a noite tomou conta do cenário. “Só pensava que, se ninguém me achasse logo, iria amanhecer morto. O corpo não correspondia ao comando do cérebro. Nunca imaginei que um dia isso fosse me acontecer, sempre fui acostumado com a lida do gado.”, complementou.
A luz da salvação
Foram aproximadamente seis horas de buscas e, quando os familiares estavam reunidos no sítio pensando em alternativas e nos locais que ainda não tinham percorrido, lembraram do cocho e foram ao local gritando pelo nome de Sebastião na esperança de que respondesse aos chamados.
Logo, escutaram um murmúrio, enfraquecido, baixo. Com o auxílio do farol do carro o avistaram em meio a vegetação. Enquanto acontecia a mistura de choro e alívio, a ambulância foi acionada e rapidamente chegou ao encontro deles, superando as dificuldades de acesso para salvar a vida de Sebastião.
O sitiante teve quatro costelas quebradas, um pulmão perfurado e o outro lesionado, além de diversos hematomas pelo corpo. Foi levado para a unidade hospitalar municipal, onde recebeu os primeiros-socorros, e precisou ser transferido para a Santa Casa.de Campo Grande devido à gravidade do quadro clínico.
Foram 18 dias de internação, sete só na UTI. “Só lembro quando me colocaram na ambulância e depois, já com cinco dias, acordei no hospital. Fui muito bem atendido pela equipe médica e enfermeiros”, agradeceu Sebastião, hoje já recuperado do trauma que passou. “Agora estou mais precavido na hora de tratar do gado”, finalizou, sorrindo.
A filha Rozelene Lima e o genro, Rodrigo Lima, reforçam o agradecimento para a equipe de socorristas de Rochedo, que não mediram esforços para salvar Sebastião. “Rapidamente vieram para o resgate. Quando chegaram, já colocaram o oxigênio para a respiração. Foram muito ágeis e eficientes, fundamentais para salvar a sua vida”, disseram.