Moradores dos bairros Nhanhá, Jacy, Marcos Roberto e região relataram, em Audiência Pública, promovida pela Câmara de Vereadores de Campo Grande, as várias dificuldades enfrentadas pela falta de segurança. Mesmo com ações policiais frequentes, eles convivem com pequenos furtos praticados por usuários de drogas. A criação de uma Guarda ou Polícia Comunitária na Nhanhá é uma das propostas estudadas. A necessidade de ações integradas, da segurança, assistência social e outras áreas, também foi discutida.
O debate foi proposto pelo vereador Beto Avelar, integrante da Comissão Permanente de Segurança Pública da Casa de Leis, atendendo a pedidos de moradores. “São várias ideias, foram várias falas. O problema destes moradores de rua, desses usuários de droga, principalmente na Nhanhá e o entorno dela, é muito complexo. Uma sugestão foi para termos uma Guarda Comunitária”, afirmou. Ele alertou que autoridades – tanto policiais como do Judiciário – falaram que a “Guarda Comunitária só funcionaria com uma união de esforços, não só da Polícia ou da Guarda, mas também dos órgãos públicos, como Assistência Social, Saúde e também para dar uma oportunidade para essas pessoas entrarem no mercado de trabalho”.
Representantes da Polícia Civil, Polícia Militar, Guarda Civil Metropolitana, secretarias municipais, Ministério Público Estadual e moradores de vários bairros participaram da discussão, apresentando sugestões.
Presidente da Comissão de Segurança da Câmara, o vereador André Salineiro apresentou a sugestão do posto policial ou da Guarda Metropolitana dentro da Vila Nhanhá, ressaltando a necessidade de trabalho integrado. Ele enfatizou o gargalo da questão social. “É preciso não só acolher, mas dar uma função social a essas pessoas”, disse. Uma das sugestões é para que depois do tratamento, a pessoa possa ter esse encaminhamento para o mercado de trabalho, citando a possibilidade de encaminhamento por meio do Programa de Inclusão ao Mercado de Trabalho (Primt), antigo Proinc.
Reforçando a ideia de ações conjuntas para resolver o problema, o promotor de Justiça Douglas Oldegardo propôs a criação do Programa de Enfrentamento à Criminalidade da Região do Anhanduizinho, que conta com mais de 200 mil moradores e onde estão os bairros que concentram as principais reclamações. “Podemos integrar todos que estão aqui para resolver esse problema”, disse, referindo-se aos presentes na Audiência. Ele ressaltou que é possível melhorar, com mais integração, começando pela área da segurança para que as operações sejam feitas com mandados de prisão expedidos, a partir das investigações da área de inteligência. Ainda, é preciso direcionar o planejamento urbano baseado nos indicadores de criminalidade, com foco na iluminação pública, por exemplo.
Reivindicações
Vários moradores dos bairros Jaci, Marcos Roberto, Nhanhá trouxeram suas reclamações e reivindicações, desabafando sobre a falta de segurança, a presença de usuários de drogas nas ruas, falta de iluminação pública e outros problemas enfrentados.
Presidente do Bairro Jaci, Talita Mariana, reclamou do aumento de furtos, que estão ocorrendo desde novembro. “À noite, eles levam portão, lixeiras e até os números das casas”, disse. Ela informou que a polícia vem atuando, mas as pessoas presas logo estão soltas novamente.
Moradora há 30 anos da Jaci, Maria Antônia de Melo Oshiro desabafou que “não tem mais sossego”. Ele relatou que a moto do filho foi levada na madrugada de dentro de sua casa. “Os moradores têm que viver trancados, sem sair de casa. Se sair, tem que trancar bem, porque não sabe se vai achar a casa como deixou. Eles roubam ali e levam na Nhanhá para vender”, disse.
O vereador Veterinário Francisco reclamou também que os moradores sentem-se presos dentro de suas casas, citando a dificuldade enfrentada pelo seu pai, que mora na região. “Esses dias tinha uma pessoa em cima da casa pegando um antena da TV. A esperança que todos da região têm, é resolver aquele problema. Precisamos de ação já, não podemos esperar mais!”, afirmou. Ele denunciou ainda informação de que outros municípios estão enviando usuários de drogas e deixando naquela região.
O vereador Wilson Lands, que nasceu e cresceu na região, falou das dificuldades dos moradores. “Precisamos ter olhar humano, mas que traga solução”, disse. Ele lembrou de projetos sociais no Marcos Roberto, com atendimento a mais de 200 crianças, que foram desativados. “Nunca mais vimos projeto direcionado a resgatar nossas crianças e adolescentes na área da assistência social. Lamento muito”, afirmou.
Focar em investimentos nos bairros é um dos caminhos apontados pelo vereador Leinha. “Precisamos cobrar do Executivo mais iluminação, praças, ter mais atividades. Também, levar mais oportunidade para o jovem se qualificar”, afirmou. Ele falou que tem conversado com muitos moradores, que relatam sobre a quantidade de furtos que aumentou nos últimos anos.
Integração
O Secretário Especial de Segurança e Defesa Social, Anderson Gonzaga, falou das ações feitas constantemente. Recordou que 10 operações foram feitas na região, de forma integrada pela Guarda Civil Metropolitana, Polícia Civil e Polícia Militar. “Tivemos grandes resultados, combatendo ações de furto e receptação nestes locais”, destacou. Ele recordou que mais de 3 toneladas de cobre foram apreendidas, além disso estão sendo mapeados imóveis abandonados, para evitar que se tornem pontos para usuários de drogas.
O delegado Hoffman Davila, titular da Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico (Denar), trouxe a reflexão “se estamos no caminho certo de apenas repressão, com trabalho preventivo e repressivo das forças policiais, para resolver o problema? Ou precisamos focar nas pessoas que ali estão, nos usuários?”. Ele falou das operações integradas realizadas, com 60 prisões e 44 boletins de ocorrência lavrados. “Porém, por questão de legislação, não é possível ajudar esse usuário”, afirmou. Ele alerta que essa pessoa é retirada de circulação, mas depois de 4 horas volta para o mesmo lugar. A necessidade de um Centro de Reabilitação foi apontada pelo delegado.
A participação da população, cobrando e apresentando sugestões ao poder público, foi destacada pelo comandante do Policiamento Metropolitano, coronel Emerson Almeida Vicente. “Minha proposição é que todas as forças se unam, principalmente com pastas essenciais: assistência social, saúde e emprego. Precisamos de forças-tarefas contínuas, com alinhamento dessas pastas e atuação no dia a dia para dar qualidade de vida a quem mora nessa região”, ressaltou.
Ademir Cristaldo, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Gestão Urbana e Desenvolvimento Econômico, Turístico e Sustentável, falou que será feita fiscalização nos bairros para verificar a denúncia de ferros-velhos funcionando no período noturno. Esses estabelecimentos estariam recebendo materiais furtados.
Representando a Secretaria Municipal de Assistência Social, Tereza Cristina Miglioli, destacou o trabalho para garantir vida digna aos moradores de rua, destacando os centros de acolhimento e Serviço de Abordagem Social, trabalhando 24 horas por dia. “Nossa missão é acolher, orientar e encaminhar essas pessoas para empregabilidade. Porém, não posso forçá-lo a sair da rua, mas posso tentar convencê-lo a aceitar nossos serviços, para reintegrá-los à sociedade”, disse.
A Audiência Pública completa foi transmitida pela TV Câmara e também está disponível no Youtube da Casa de Leis.