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‘Beefalo’: o híbrido de vaca e bisão que ameaça o Grand Canyon

05/03/2015 15h00

‘Beefalo’: o híbrido de vaca e bisão que ameaça o Grand Canyon

Uma estranha criatura híbrida, resultado de uma tentativa fracassada de se criar uma raça metade vaca metade bisão no início do século 20, está causando estragos no Grand Canyon, no sudoeste dos Estados Unidos.

Apelidados de “beefalo”, esses animais ─ que atualmente vivem soltos ─ estão se provando uma dor de cabeça tanto para ambientalistas quanto para grupos indígenas, que querem exterminá-los.

Também despertam tanta curiosidade que alguns turistas vêm colocando suas vidas em risco apenas por uma oportunidade para observá-los.

O problema está em seu comportamento considerado “destrutivo”: bebem muita água, comem vorazmente, destroem o solo e a vegetação por onde passam.

Estima-se que, na área da reserva natural conhecida como North Rim, vivam cerca de 600 animais dessa espécie.

De acordo com ambientalistas, o “beefalo” pode consumir até 45 litros de água por dia, o que significa que uma manada inteira pode colaborar para baixar consideravelmente o nível de água de um córrego em poucas horas.

Mas esse não é o único dano ambiental que esses animais causam. Também defecam em fontes de água potável e seu peso compacta o solo.

O apetite voraz e o hábito de tomar “banhos de poeira” deixam a terra sem nutrientes, explicam ambientalistas.

Além disso, à medida que sua população cresce, outros animais são obrigados a deixar o local, fazendo com que o ecossistema perca seu equilíbrio natural, acrescentam.

Insetos e plantas exóticas também são afetados com essa mudança.

Martha Hahn, coordenadora de recursos naturais do Parque Nacional do Grand Canyon, levou a reportagem da BBC a um dos lagos (são sete no total), onde os danos são evidentes.

“Entre 200 e 300 beefalos bebem desta fonte de água e podem acabar com ela muito rapidamente”, diz ela.

“Cerca de 80% das nossas plantas e outras espécies dependem de recursos hídricos limitados. Há, no total, provavelmente sete lagos como este no parque e em áreas adjacentes. Sem água, outras espécies serão afetadas”, explica ela.

Em um de seus experimentos, Tom Sisk, professor de ciência e política ambiental da Universidade do Norte do Arizona, cercou metade da área de pastagem para estudar os efeitos, mas os “beefalos” a destruíram.

À primeira vista, o potencial destrutivo de uma manada de 600 animais não parece significativo se considerada a extensão do Grand Canyon, mas o impacto dessa espécie se concentra, na verdade, em áreas mais sensíveis.

Os “beefalos” destruíram ruínas de pedra do local, que até hoje é considerado sagrado para muitos grupos indígenas.

População em alta
Logo no início da visita, a reportagem da BBC presenciou centenas desses animais na entrada do parque, ao lado da estrada.

“É incrível. Sinceramente nunca vi tantos juntos em todos os anos que eu trabalhei aqui”, disse Sisk.

“Há alguns anos, era comum ouvir histórias sobre o bisão fantasma do Grand Canyon. Por muito tempo, muita gente veio aqui para observar essa criatura. O que estamos vendo agora é um aumento dramático da população de um animal real e potencialmente destrutivo”.

Muitos turistas param para tirar fotos e alguns correm mais riscos do que outros.

“Um acidente ocorre, em média, por dia”, diz Hahn. “Se um carro acaba parado entre um bezerro e sua mãe, ela ataca o veículo”.

Experiência malsucedida

A criação dos “beefalos” partiu de um homem chamado Charles “Buffalo” Jones, em 1906.

Naquela época, a população de búfalos – um animal icônico nos Estados Unidos – estava em queda. Jones cruzou, então, os bisões com vacas domésticas para produzir um animal forte, que pudesse ser comercializado.

Quando ele abandonou a ideia, os animais ficaram a cargo dos proprietários dos ranchos onde a espécie era criada. Para controlar o crescimento da população, autoridades locais entregaram licenças de caça limitadas.

Tudo parecia transcorrer sem problemas até o momento em que os “beefalos” entraram no Parque Nacional, onde a caça é proibida e não existem predadores naturais.

O resultado foi um aumento no número desses animais da ordem de 50% ao ano.

Os “beefalos” também se aventuram fora do parque, mas fora da temporada de caça. Hahn acredita que os animais aprenderam a determinar quando o período começa e termina.

Medidas
Por ora, as autoridades locais estão discutindo a melhor maneira sobre o que fazer com os “beefalos”.

Enquanto alguns caçadores defendem a ideia de permitir matar os animais, grupos indígenas se opõem à prática por condenarem a morte por esporte.

As opções incluem métodos letais e não-letais, como cercá-los ou dar contraceptivos aos animais.

Mas até o momento, nenhuma das iniciativas se provou bem-sucedida.

Entre as alternativas para reduzir os estragos causados pelos beefalos, houve até quem sugerisse que os indígenas “adotassem” os bisões como animais domésticos, algo que já faz parte de sua tradição cultural.

No entanto, nenhuma ação será implementada até o próximo ano.

Com informações da BBC Brasil – Todos os direitos autorais

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