Na fronteira entre o Brasil e o Paraguai, onde o asfalto vira estrada de terra e se misturam línguas e culturas, nasceu o projeto de um grupo formado por estudantes de agronomia que, por meio do programa Jovem Sucessor Rural, do Senar/MS, decidiram plantar muito mais do que hortaliças no povoado paraguaio de Zanja Pytá, escolheram cultivar dignidade.
Incentivados pelo programa, os estudantes criaram um plano simples, mas ousado: instalar hortas nas casas de famílias da comunidade. O que começou com a venda de materiais recicláveis para a compra das primeiras mudas, virou um trabalho de impacto social, que uniu sustentabilidade, renda alternativa e alimentação saudável para quem mais precisava.
“Queremos desmistificar esse olhar que muitos têm de que a fronteira só tem coisa ruim. Ficamos felizes em saber que fazemos a diferença para as famílias e toda comunidade, além de dar o exemplo para a população de que com pequenos gestos você consegue atingir um objetivo bonito”, comenta o integrante do grupo, Ewerton Fernandes.
Essa é a história do Transformando Vidas de hoje:
A transformação chegou silenciosa, muda a muda, em quintais que antes eram ociosos. Na casa de dona Selma Aguires, o mato e o entulho deram lugar a couve, cebolinha e alface, mas o que floresceu mesmo foi um novo olhar sobre a vida.
“Até quando vou ao mercado, tenho mais cuidado para comprar verduras pois sei de todo o trabalho da produção. Aqui antes tinha sujeira. E agora tem vida. Meu filho cuida da horta com gosto. Esses jovens não trouxeram só hortaliças, trouxeram também cuidado”, conta.
A mudança não foi sentida apenas na casa de dona Selma. Assim como ela, outras famílias da comunidade também viram seus quintais se transformarem em espaços produtivos, coloridos e cheios de vida. O projeto criou novos hábitos e fortaleceu o vínculo entre os moradores.
A iniciativa avançou tanto que a produção começou a sobrar. Os jovens, então, partiram para outra empreitada: o empreendedorismo. “Não esperávamos que daria tão certo. Muitas famílias produziam mais do que consumiam. Por isso pegávamos todo o excedente, colocávamos no meu veículo e era um verdadeiro carro da verdura. Até hoje perguntam se eu tenho alface”, relembra.
Persistência
Os encontros do programa Jovem Sucessor Rural aconteciam aos sábados, no Sindicato Rural de Ponta Porã. A cada final de semana os instrutores semeavam ideias, despertavam talentos e acendiam sonhos.
“Esses encontros eram sensacionais. Geralmente no sábado pela manhã, estávamos cansados da rotina semanal, mas eles conseguiam nos cativar e nos motivar”, conta Fernandes.
Houve tropeços, claro. Um carro só para dez pessoas, motor que às vezes falhava, baldeações improvisadas para chegar às aulas. Contudo, nunca faltou presença e vontade. “Esses perrengues e muitos outros que aconteceram durante o projeto, só nos deram mais força para fazer a diferença”.
Premiação
Tamanha dedicação rendeu ao grupo Agro Fronteiras o segundo lugar na premiação do programa Jovem Sucessor Rural. O projeto se destacou pelo impacto social e pela criatividade na execução, mesmo com poucos recursos. A proposta chamou a atenção por unir sustentabilidade, inclusão e empreendedorismo.
“É incrível sermos premiados pelo nosso esforço ao longo de um ano. O prêmio não foi só para nós, mas para as famílias que aceitaram nossa proposta”, conclui o representante do grupo.
Jovem Sucessor Rural
O Jovem Sucessor Rural é um programa pioneiro do Senar/MS criado para preparar as novas gerações para a liderança no campo. Voltado a jovens ligados ao meio rural, o curso aborda temas como sucessão familiar, responsabilidade social, oratória, inovação, empreendedorismo, desenvolvimento pessoal e gestão no agronegócio. A proposta é capacitar esses futuros líderes com uma formação sólida, tanto técnica quanto comportamental, para que estejam prontos a dar continuidade aos negócios rurais com visão estratégica e sustentável.
Com duração de até nove meses, o programa é gratuito e realizado em parceria com os Sindicatos Rurais de diversos municípios. As aulas acontecem duas vezes por mês e incluem dinâmicas práticas, oficinas, visitas técnicas e desenvolvimento de projetos voltados a soluções reais para desafios do setor agropecuário. Além da formação, o programa promove uma premiação entre os grupos participantes, reconhecendo as melhores ideias com potencial de transformação no campo.
