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domingo, 22 de dezembro, 2024
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Casal é resgatado pela Polícia Civil trabalhando e vivendo em regime de escravidão no Pantanal de MS

A Polícia Civil fez o resgate de um casal que vivia no regime semelhante ao da escravidão em uma fazenda localizada em Corumbá. De acordo com o registro policial, as vítimas de 38 e 23 anos dormiam em um chiqueiro às margens do Rio Paraguai, sendo ainda que eles pagavam pela estadia naquele local e até mesmo pelos alimentos que consumiam. A situação foi descoberta pelo delegado Nicson Lenon Cruz Galisa na semana passada, ao investigar um homicídio ocorrido na região.

A fazenda onde o casal trabalhava pertence a um idoso de 63 anos. Em depoimento, o casal disse que trabalhava no rancho há pouco mais de dois meses com o contrato por empreita pelo valor de R$ 60,00 por hectare de terra roçada. Os dois ainda garantiram que jamais receberam qualquer valor em pagamento pelo trabalho realizado até então. Além disso, eles já estavam com uma dívida de mais de R$ 2.000,00 junto ao patrão pela alimentação repassada pelo sujeito.

Ainda conforme a investigação, as vítimas relataram que no primeiro mês dormiram dentro de um chiqueiro, junto dos porcos. O local é feito de apenas algumas tábuas de madeira, sem paredes ou piso, vulnerável a chuvas, vento, frio, sol, entrada de animais. Foi verificado pela equipe não haver água encanada ou sistema de filtragem, sendo que o casal bebe água diretamente do rio.

As condições sanitárias ainda não contavam com banheiro, vaso sanitário ou chuveiro, sendo as necessidades feitas no mato ou em uma bacia improvisada. O banho era feito com água do rio trazida em uma bacia. Sobre a alimentação, foi relatado que os filhos do casal levam comida, mas que a mesma é descontada do pagamento, como não haviam recebido nada até então, estavam devendo ao patrão cerca de R$ 2 mil pela comida recebida.

O casal sustentou que, pela ausência de barco para transporte no local, eles dependiam totalmente dos patrões para levar comida, mas que os mesmos nem sempre fornecem o alimento necessário e, por este motivo, recebiam doações dos vizinhos. Apesar dos patrões possuírem barco, raramente o transporte para a cidade é disponibilizado e a locomoção era restringida.

“Houve um homicídio semana passada e em diligência chegamos a esta fazenda. Conversando com o casal, percebemos que eles estavam em uma situação degradante. Hoje, fomos para resgatá-los. Eles estavam dormindo no chiqueiro, bebiam água do rio e o patrão cobrava pela estadia, já que estavam se alimentando com alimentos do patrão. Os patrões cobravam tudo para manter eles aqui. Situação bem precária e triste”, comentou o delegado.

Barraco inundava com cheia do rio.  — Foto: Polícia Civil/Reprodução
Barraco inundava com cheia do rio. — Foto: Polícia Civil/Reprodução

“Era difícil, mas íamos lidando. Eles eram bravos, a gente pedia ajuda e nunca vinham resolver. O combinado era pagar para roçar por hectare. Eles falavam que deviam para eles, cobravam até a comida. Eu dormia debaixo de mosquitos, três meses muito tristes. Sempre que chovia o barraco inundava”, relatou a vítima.

Foi afirmado ainda pelas vítimas que a carteira de trabalho jamais foi assinada e que o patrão possui um patrimônio de mais de 1.000 cabeças de gado. Com o flagrande, foi determinanda a prisão dos patrão e dos dois filhos deste. Eles irão responder pelo crime de reduzir alguém a condição análoga à escravidão, com pena variando de 2 a 8 anos. As vítimas foram levadas para a delegacia de Corumbá e serão encaminhadas para o serviço de assistência social.

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