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quarta-feira, 4 de dezembro, 2024
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Caso Sophia: casal que matou menina com agressões e tortura é julgado no Fórum de Campo Grande

Acontece nesta quarta-feira (04) o julgamento do caso Sophia, menina de dois anos morta pelo padrasto Christian Campoçano com auxílio da própria mãe, Stephanie de Jesus. O crime aconteceu em janeiro de 2023, em Campo Grande, e chocou a sociedade na época pela covardia com que foi praticado.

O casal vai passar pelo júri popular, ou seja, quando o corpo de jurado formado por cidadãos define quais crimes os acusados devem responder. Segundo a justiça, até a noite da quinta-feira (5) deve ser declarada a sentença pelo titular da 2ª Vara do Tribunal do Júri, Aluízio Pereira dos Santos, responsável pelo julgamento do processo.

Ao chegar no Fórum, o pai de Sophia, Jean Ocampo, e o marido Igor Andrade, falaram brevemente com a imprensa e reforçaram que outras pessoas também deveriam estar sendo condenadas pelo crime. “Não são só os dois que tinham que estar sentados ali, é mais gente que tem que estar ali, porque eles não olharam para Sophia; se olhassem para ela, se pelo menos dessem importância pelo que nós estávamos falando, o grito de socorro que nós estávamos pedindo, o desfecho dela seria outro”, disse Jean.

Ele também disse que sente a falta da filha e que a condenação da ex-esposa e do padrasto da menina será um alívio para o seu coração. “A dor nunca vai passar, porque a saudade dela é todos os dias, em todo momento”, declarou. “A felicidade dela era o que contagiava nossa casa que, hoje, ficou cinza”, descreveu.

O juiz avisou que deve conversar com as partes em separado. O número de testemunhas caiu de 12 para 10, fato que impacta na duração do julgamento. A expectativa é que os réus sejam ouvidos ainda hoje, logo após as testemunhas. O plenário é composto por familiares, estudantes de direito, jornalistas e populares.

Morte por violência

Conforme consta no processo, a menina morreu por violência e tortura, chegou até mesmo a ter a tíbia trincada e a cabeça machucada após apanhar dos responsáveis. Os registros no Sistema Único de Saúde (SUS) indicam que foram pelo menos 30 atendimentos em unidades de saúde ao longo dos dois anos de vida.

O laudo do Imol (Instituto de Medicina e Odontologia Legal), apontou que a causa da morte foi por traumatismo na coluna cervical e confirmou que violência sexual não recente. Já a declaração de óbito aponta como causa da morte um trauma na coluna cervical, que evoluiu para o acúmulo de sangue entre o pulmão e a parede torácica.

O casal está preso desde o crime, sendo que a mãe da vítima, Stephanie, está no estabelecimento penal de São Gabriel do Oeste. Ela responde por homicídio qualificado por motivo fútil, meio cruel, contra menor de 14 anos e homicídio doloso por omissão. Às vésperas do julgamento, a defesa disse que a ré sofre de síndrome de Estocolmo e, por isso, não conseguia assimilar a realidade violenta em que Sophia estava inserida. 

Christian aguarda pela pena no Instituto Penal de Campo Grande e foi denunciado pela promotoria de Justiça por homicídio triplamente qualificado por motivo fútil, meio cruel e contra menor de 14 anos, além de estupro de vulnerável. Três meses após o crime, a defesa tentou reverter a prisão, alegando que o réu corria risco. O pedido não foi aceito.

Autor da denúncia contra o casal, o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) utilizou mensagens dos celulares dos réus para refazer as últimas horas de vida de Sophia. Os aparelhos passaram por perícia que revelou diálogos e fotos que evidenciaram o ciclo de violência ao qual a menina foi submetida.

O caso

Padrasto e mãe foram presos em flagrante na noite do dia 26 de janeiro de 2023, acusados de espancar e matar a filha, de apenas dois anos e sete meses, em Campo Grande. A criança deu entrada, morta, na Unidade de Pronto Atendimento do Bairro Coronel Antonino.

A menina foi levada ao posto de saúde pela mãe com várias lesões pelo corpo, mais precisamente, nas costas, no braço, joelho, olho e também um inchaço ao ombro esquerdo, além de estar com abdômen inchado.

As médicas plantonistas fizeram o atendimento e constataram que a criança já estava sem vida, inclusive com início de rigidez cadavérica, calculando que a morte poderia ter ocorrido a cerca de quatro horas antes.

Diante do caso, a polícia foi acionada, sendo informado ainda pelas médicas que estranharam a calma e tranquilidade da mãe, após receber a notícia do óbito da filha. “Apenas demonstrou nervosismo, quando informada que seria acionada a polícia”, relatou uma das médicas.

Ainda de acordo com registro policial, a mãe negou em primeiro momento as agressões, mas depois mudou a versão passando a contar que trabalhava o dia todo e que seu marido, cadastro da criança, cuidava da menina e que ele dava tapas e socos para “corrigi-la”. Ao final, também, a mulher acabou confessando que batia na própria filha.

Sophia chegou morta na UPA

Segundo o laudo necroscópico, ela teria morrido entre às 9 e 10 horas do dia 26 de janeiro, tendo dado entrada na UPA somente por volta das 17 horas, ou seja, sete horas depois da morte. No dia da morte da Sophia, a equipe médica acionou a polícia e, de imediato, uma equipe do Grupo de Operações e Investigações (GOI) foi até o local e conversou com os profissionais.

“Eles disseram que desconfiavam de que a menina estivesse morta há pelo menos 4 horas, relatando ainda que a mãe demonstrou certa frieza e só se desesperou quando foi avisada de que a polícia tinha sido acionada”, contou a investigação do caso.

“Na delegacia, o padrasto se reservou ao direito de ficar calado e falar somente em juízo. Já a mãe disse que a criança tinha passado mal e que estava com a barriga inchada porque tinha comido muita maionese. Ela disse ainda que já tinha batido na filha algumas vezes, mas de forma corretiva e que nunca houve um espancamento”, revela.

Foi feito exame necroscópico em Sophia e o laudo apresentou que a menina teve traumatismo raquimedular em coluna cervical e constatou que ela estava com hímen rompido, por violência sexual não recente.

Durante os trabalhos investigativos, a DEPCA apreendeu um computador e dois telefones celulares pertencentes aos autores. Foi representada pela quebra do sigilo telemático, que foi autorizado pelo Poder Judiciário.

A delegada Anne Karine informou que foi constatada trocas de mensagens entre os autores, demonstrando que eles tentavam criar uma versão para o motivo da morte da menina, que os eximissem de culpa.

“Em uma das conversas o padrasto de Sophia pedia para a mãe dela dizer que a menina tinha caído no parquinho e posteriormente sugeria para ela contar a verdade, porém, assim que ela contasse ele se mataria”, disse.

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