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domingo, 9 de março, 2025
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Caso Vanessa: Inquérito revela feminicídio, cárcere privado e violência psicológica

A brutalidade com que a jornalista Vanessa Ricarte foi assassinada pelo ex-noivo, Caio Cesar Nascimento Pereira, em 12 de fevereiro, reflete um ato premeditado, motivado pela resistência dela em romper com um ciclo de violência psicológica que a manteve aprisionada por um longo período, sustentando o relacionamento. Essa análise consta no Relatório Final do Inquérito Policial do caso, que foi enviado à Justiça e resultou na denúncia do Ministério Público contra o músico pelos crimes de homicídio, cárcere privado e violência psicológica contra Vanessa, além da tentativa de homicídio contra o amigo que a auxiliou quando ela pediu para o artista sair de sua casa.

O documento, de 25 páginas, foi assinado pela delegada Analu Ferraz, da Delegacia Especializada no Atendimento às Mulheres (Deam), segundo informações obtidas pelo G1MS. Ele descreve não apenas a morte de Vanessa, mas também a tentativa de homicídio contra um amigo da vítima, que estava presente no local, e a violência sistemática da qual ela foi vítima antes de ser assassinada.

O ciclo de violência

O relatório revela que Vanessa tentou, por duas vezes, buscar proteção nas autoridades no dia de sua morte. Na madrugada de 12 de fevereiro, ela registrou boletim de ocorrência contra Caio, relatando ameaças e divulgação de imagens íntimas sem seu consentimento. Naquela ocasião, a jornalista pediu uma medida protetiva, demonstrando claramente o medo que sentia. Horas depois, encorajada por amigos, ela retornou à delegacia para detalhar as agressões sofridas. Após passar cerca de 18 minutos com a delegada plantonista, Vanessa voltou para casa, onde, ao tentar fazer com que Caio deixasse o local, foi esfaqueada com três golpes no tórax.

No momento em que a vítima foi atacada, o amigo que estava com ela conseguiu, com dificuldade, impedir que Caio o matasse, empurrando Vanessa para dentro da cozinha e trancando a porta. Embora socorrida, a jornalista não resistiu aos ferimentos e morreu no hospital horas depois. O relatório da polícia descreve a ação do agressor como “covardia, frieza e ódio”, uma tentativa desesperada de controlar uma mulher que estava, finalmente, tentando romper o ciclo de violência.

Premeditação e controle

A investigação também revelou que Caio havia mantido Vanessa em cárcere privado durante cinco dias, obrigando-a a gastar mil reais para comprar drogas, uma tentativa de sustentar seu vício. Ele transformou a jornalista em uma “presa”, controlando sua rotina e vigiando cada passo de sua vida. O relatório descreve que, ao perceber que tinha o controle sobre Vanessa, Caio passou a monitorá-la de maneira quase obsessiva, detalhando até os horários e atividades da vítima.

A Polícia Civil entrevistou mais de dez testemunhas, principalmente amigos de Vanessa, que corroboraram os relatos de violência e controle por parte de Caio. As circunstâncias e os depoimentos apontam que o feminicídio foi premeditado, com o agressor agindo de maneira calculada. Durante seu interrogatório, Caio não demonstrou arrependimento.

O crime e o julgamento 

Caio será levado a júri popular pelo feminicídio de Vanessa e pode pegar de 20 a 40 anos de prisão, com aumento de até um terço, porque agiu de forma a enganá-la e impedir que se defendesse, ao sugerir que queria conversar e, então, golpeá-la com facadas na região do coração. Por cárcere privado, ele pode ser condenado de 2 a 5 anos de prisão e também pela violência psicológica, com pena entre 6 meses e 2 anos. Há ainda a denúncia contra ele pela tentativa de matar o amigo de Vanessa. O caso tramita em segredo de justiça.

A defesa de Caio

A defesa de Caio do Nascimento se manifestou, afirmando que acompanha atentamente o andamento das investigações e acredita no devido processo legal, respeitando a presunção de inocência e o contraditório. “A defesa ainda terá a oportunidade de se manifestar e apresentar os elementos necessários para o esclarecimento da verdade real no curso do processo judicial”, disseram os advogados, reiterando o compromisso com a transparência e com a justiça.

O impacto do caso

O feminicídio de Vanessa Ricarte é um trágico exemplo de como a violência contra a mulher pode ser sistemática, controladora e devastadora. O caso evidencia o ciclo de abuso do qual muitas mulheres não conseguem escapar e revela a urgência de medidas eficazes de proteção. Com o indiciamento de Caio do Nascimento pelos crimes de feminicídio, cárcere privado e violência psicológica, espera-se que a Justiça cumpra seu papel, não apenas para Vanessa, mas para todas as mulheres que sofrem em silêncio.

A história de Vanessa Ricarte, marcada pela alegria de sua personalidade, não pode ser esquecida. Ela será lembrada como um símbolo da luta contra a violência de gênero, um alerta sobre os perigos do controle abusivo e da impunidade.

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