Presidente da Comissão Europeia também vai estar na reunião; parceria comercial é discutida há mais de 20 anos
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa nesta sexta-feira (6) da 65ª Cúpula dos Chefes de Estados do Mercosul e Estados Associados, em Montevidéu, no Uruguai. A expectativa é que o acordo entre o bloco sul-americano e a União Europeia, discutido há mais de 20 anos, seja assinado na reunião. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, está na capital uruguaia e também vai participar do encontro, o que eleva ainda mais a tendência de conclusão da parceria.
A assinatura do acordo é defendida por Lula e tem sido uma das principais bandeiras do petista desde o início do terceiro mandato. “A linha de chegada do acordo UE-Mercosul está à vista. Vamos trabalhar, vamos cruzá-la. Temos a chance de criar um mercado de 700 milhões de pessoas. A maior parceria comercial e de investimentos que o mundo já viu. Ambas as regiões sairão ganhando”, escreveu Ursula em uma rede social nessa quinta (5), quando pousou em Montevidéu.
O evento na capital uruguaia marca o encerramento da presidência do país no bloco e a transferência de comando para a Argentina, governada por Javier Milei, crítico de Lula e do Mercosul.
A cúpula será a primeira com a participação da Bolívia como integrante plena do bloco sul-americano. A entrada foi selada na cúpula anterior, em Assunção, no Paraguai, com a assinatura do protocolo de adesão. Durante o encontro, também será oficializada a participação do Panamá como Estado Associado do Mercosul, o primeiro país da América Central a entrar no bloco.
Além da Bolívia, compõem o Mercosul Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. A Venezuela está suspensa do grupo desde agosto de 2017, em reação ao regime ditatorial de Nicolás Maduro. Com a entrada boliviana, o bloco passa a representar 73% do território da América do Sul (13 milhões de km²), 65% da população do continente, cerca de 300 milhões de pessoas, e 70% do PIB regional (US$ 3,5 trilhões).
Acordo União Europeia e Mercosul
O tratado propõe zerar as tarifas para 91% dos produtos exportados pelo Mercosul para a União Europeia e para 95% das exportações do bloco europeu para os sul-americanos. As mudanças seriam feitas ao longo de um período de transição, de 10 a 15 anos, a depender do setor. Também estão previstas a redução de tarifas alfandegárias e o aumento de exportações, especialmente no setor agrícola, no qual o Mercosul tem vantagens competitivas.
A expectativa é que a parceria gere crescimento econômico, investimentos e ampliação de mercado para os países envolvidos, com destaque para o Brasil. Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o acordo pode impulsionar o PIB brasileiro em 0,46% até 2040 — equivalente a US$ 9,3 bilhões.
Além disso, traria ganhos em investimentos, com aumento de 1,49% no Brasil, superior aos lucros esperados para a União Europeia (0,12%) e outros países do Mercosul (0,41%). A parceria também beneficiaria exportações agrícolas brasileiras, com maior acesso ao exigente mercado europeu.
Apesar do potencial econômico, a negociação enfrenta desafios políticos e econômicos. Países europeus, como França e Polônia, resistem ao acordo devido à pressão de agricultores, que temem perder mercado para os produtos agropecuários do Mercosul, mais competitivos,
Na França, em especial, os agricultores enfrentam baixa produtividade e dependem de subsídios, o que acentua o temor de competição desigual. Além da resistência agrícola, o protecionismo europeu em setores sensíveis, como automotivo e químico, dificulta o avanço do acordo.
Enquanto o Mercosul busca expandir o acesso ao mercado europeu para produtos agrícolas, a União Europeia deseja aumentar a exportação de produtos industriais, equilibrando interesses divergentes entre os blocos. Incidentes recentes, como a crise com o Carrefour, ilustram o embate político. A rede varejista francesa anunciou que deixaria de comprar carnes do Mercosul, gerando repercussão negativa e críticas no Brasil.
Empresas brasileiras de carne revidaram com um boicote, pressionando o Carrefour a se retratar. O episódio refletiu a complexidade das negociações e as tensões entre interesses econômicos e políticos. Lula critica a resistência francesa e defende a ratificação pela Comissão Europeia. Segundo o petista, o pacto não apenas trará benefícios econômicos, mas também concluirá a longa negociação em torno do acordo.
Fonte: R7