Neste sábado (19), o Brasil celebra o Dia dos Povos Indígenas com uma série de iniciativas que reforçam o protagonismo dos povos originários na agenda climática global. Em mensagem divulgada nas redes sociais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou a importância do conhecimento ancestral indígena para a preservação da vida no planeta e defendeu que “o verdadeiro futuro é o que resistiu”.
A publicação, também compartilhada pelo Ministério dos Povos Indígenas (MPI), traz uma reflexão sobre o papel dos saberes milenares na luta contra a destruição ambiental. “Abril Indígena, um chamado para ouvir, aprender e mudar”, diz o texto que reforça a necessidade de reverenciar o passado para construir um futuro sustentável.
Neste ano, o Dia dos Povos Indígenas ganha ainda mais relevância diante da aproximação da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP 30, que será realizada em novembro, na cidade de Belém (PA). Reconhecida como a primeira COP realizada em plena floresta amazônica, a edição de 2025 pretende ser um marco na representatividade indígena nas discussões climáticas.
Segundo o MPI, desde a criação da pasta em 2023, o governo federal tem intensificado esforços para garantir a maior e mais qualificada participação indígena da história das conferências climáticas. Uma das principais ações foi a criação do Círculo dos Povos e da Comissão Internacional Indígena, ambas presididas pela ministra Sonia Guajajara. As instâncias foram lançadas durante o Acampamento Terra Livre, com o objetivo de fortalecer a escuta ativa e atender às demandas dos povos indígenas em nível nacional e internacional.
Apesar do reconhecimento dos saberes indígenas no Acordo de Paris — assinado em 2015 na COP 21 — os avanços práticos ainda são limitados. Apenas cerca de 1% dos recursos de financiamento ambiental e climático internacional chegam efetivamente às comunidades indígenas e tradicionais. Isso acontece mesmo com dados que mostram que a maior parte da biodiversidade protegida do planeta está localizada em territórios indígenas.
Para reverter esse cenário, o MPI e a Funai têm liderado o Ciclo COParente, uma estratégia que envolve 14 encontros regionais em todo o Brasil. A proposta é mobilizar lideranças indígenas, promover formação, escuta e articulação para garantir presença qualificada nas diversas zonas de participação da COP 30, como a Blue Zone, a Green Zone e outros espaços em Belém.
Além disso, o governo brasileiro trabalha na criação de novos mecanismos financeiros como o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) e a renovação da Promessa, um compromisso de países e entidades filantrópicas de destinar apoio direto às organizações e políticas indigenistas. A meta é reformular a dinâmica de financiamento internacional, superando a burocracia que impede que os recursos cheguem aos territórios que, historicamente, protegem as florestas.
A expectativa é que a COP 30 vá além de um grande evento na Amazônia: que deixe legados concretos, fortaleça políticas públicas, amplifique vozes indígenas e contribua para soluções sustentáveis em escala global. Em um momento em que o planeta ultrapassa os 1,5°C estabelecidos como limite no Acordo de Paris, o conhecimento indígena se reafirma como um dos caminhos mais consistentes para enfrentar a crise climática.