Neste sábado (10), ele se tornou o primeiro ‘influencer’ beato. Igreja reconheceu como milagre a cura de uma criança de Campo Grande (MS) que tocou numa relíquia de Acutis.
A Igreja Católica beatificou, neste sábado (10), o italiano Carlo Acutis, o primeiro “influencer” em questões religiosas a chegar aos altares. A cerimônia solene de beatificação, que aconteceu na Basílica de São Francisco de Assis, na Itália, na presença da família do jovem, foi transmitida ao vivo pela internet. O próximo passo é a canonização, que o tornará santo da Igreja Católica.
A beatificação foi anunciada após a Igreja reconhecer o que considera ser um milagre realizado por Acutis a um menino campo-grandense diagnosticado com rara doença congênita quando tinha apenas 2 anos, que foi curado. (Veja mais abaixo)
Carlo Acutis morreu de leucemia aos 15 anos, em Monza, na Itália, em 12 de outubro de 2006. Ele foi declarado “venerável” em 5 de julho de 2018. Quase um ano depois, seus restos mortais foram transferidos para Assis, onde foi beatificado neste sábado.
Segundo a Igreja, o corpo do adolescente ainda está “intacto”, com sua calça jeans e tênis. O Vaticano afirma que os restos mortais foram “recompostos”, mas não detalha o processo.
A data de celebração do jovem beato passa a ser 12 de outubro, a mesma data em que se celebra o Dia de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil.
O portal oficial da Santa Sé, o Vaticano News, publicou uma homenagem a Acutis em que afirma que, “de todas as virtudes cardeais (prudência, justiça, fortaleza e temperança) e teologais (fé, esperança e caridade)” de Acutis, “é a fortaleza que mais se sobressai”.
“Antes de morrer, quando perguntaram se não estava triste por morrer jovem, ele [Acutis] respondeu: ‘Não, porque eu não desperdicei nem um minuto da minha vida fazendo coisas que não agradam a Deus’. Ou seja, para Carlos, agradar a Deus significa ter uma vida plena. Não agradar a Deus significa desperdiçar a vida”, afirmou na publicação o frade capuchinho Carlos Acácio Gonçalves Ferreira, reitor do santuário do Despojamento em Assis, onde o jovem está sepultado.
O beato adolescente, que amava jogar futebol, videogame e comer Nutella e sorvete, dedicou boa parte de sua vida ao catecismo virtual e à criação de redes online para conectar mais de 10 mil paróquias.
Vida e morte
Filho de pais italianos, Carlo Acutis nasceu em Londres em 1991, mas logo se mudou com a família para a Itália.
Em Milão, já na adolescência, Acutis criou um site dedicado à catalogação cuidadosa de cada milagre já relatado na Igreja e para evangelizar — daí o título de “padroeiro da internet”.
Antonia Salzano, mãe do beato, contou ao site do Vaticano que o jovem, “com um computador relativamente obsoleto, conseguiu alcançar milhares de pessoas em todos os continentes” graças à sua personalidade e à forma como comunicava a sua fé.
O bispo de Assis, Domenico Sorrentino, afirma que o novo beato exerce hoje “uma atração semelhante” à de São Francisco de Assis em seu tempo.
“Em Assis, estamos acostumados ao encanto de São Francisco, que atrai milhões de visitantes e muitos devotos. Mas que um menino que morreu aos 15 anos em 2006 já seja tão influente é algo que só pode ser explicado por motivos sobrenaturais. A atração que Carlo exerce se parece, de certa forma, com a que Francisco de Assis exerceu”, afirmou o sacerdote à mídia italiana.
“Todos os homens nascem originais, mas muitos morrem como fotocópias, não deixem isso acontecer com vocês!”, recomendou à sua geração Acutis, que conseguia alcançar milhares de pessoas em todo o mundo com sua linguagem jovem pela internet.
O milagre concedido
O caminho para a beatificação de Acutis surgiu em 2013, quando a família de um menino de Campo Grande (MS) afirmou que o garoto se curou de uma doença grave após tocar em uma relíquia do beato, uma roupa contendo o sangue de Carlo.
A relíquia está em uma paróquia em Campo Grande, comandada pelo padre Marcelo Tenório, que realiza missas ao beato todo dia 12 de outubro.
“A criança, me lembro bem, estava raquítica e tinha problemas de pâncreas anular. Ela não comia nada, não ingeria nem sólido nem líquido e teve a cura logo depois”, afirmou ao G1 o padre Marcelo Tenório.
A beatificação é o primeiro passo para se tornar santo da Igreja, que é necessário ter intercedido dois milagres.
O jovem é considerado pelo papa Francisco “brilhante” e “criativo”, um exemplo para as novas gerações.
“É verdade que o mundo digital pode expô-lo ao risco do retraimento, do isolamento ou do prazer vazio. Mas não podemos esquecer que neste ambiente há jovens que também são criativos e, às vezes, brilhantes”, escreveu o papa Francisco, dando como exemplo Carlo Acutis.
O jovem curado
Muito elegante e com uma máscara que estampava a foto, do agora beato, Carlo Acutis, ele seguiu para a paróquia São Sebastião, acompanhado da família, onde assistiu a missa e acompanhou o processo de beatificação de Carlo, direto de Assis, na Itália.
“Estou muito, muito feliz pelo meu amigo mora no céu”, disse ao G1 o garoto. Segundo a mãe dele, a dona de casa Luciana Lins Vianna, de 40 anos, o filho está vivendo um momento muito intenso e diz ter muito carinho por Carlo. No entanto, ele ficou meio confuso, desde que inúmeras pessoas passaram a procurar a família e os abordarem para tirar fotos, conversar e falar sobre o milagre.
“Ao final da missa teve muita gente querendo falar conosco e não conseguimos sair. Pediram para tirar foto com o meu filho e ele não gosta muito de multidão. Inclusive tive que fazer um acordo com ele, já que a gente sempre sentava no fundo na igreja. Eu disse a ele que uma forma de agradecer ao Carlo era nos expor, falar do milagre em nossas vidas, principalmente porque ele estava vivo e com saúde”, disse a mãe.
Segundo Luciana, não só ela como o filho Matheus, o irmão dele e os avós fizeram questão de participar da missa em ação de graças a Carlo. “É difícil até descrever, mas, eu sempre tive da santidade do Carlo, desde que começamos a conhecer a história dele. E participar da canonização é algo muito intenso, é uma coisa muito incomum”, comentou.
Conforme a mãe, o próprio médico que atendia ao Matheus, após inúmeras consultas, usou o termo milagre para definir o ocorrido com ele. “Ele disse que procurou cortes no pâncreas, para ver se ele tinha passado por alguma cirurgia, mas, não achou nenhum corte. Ele disse que olhou em tudo quanto é canto, fez ultrassom, mas, estava anatomicamente perfeito e se convenceu de um milagre”, relembrou.
Na época do tratamento médico, Luciana diz que lembra o sofrimento de cada familiar ao ver Matheus doente. “Ele tinha 3 anos na época e o irmão dele, que agora está com 14, via o maninho vomitando o tempo todo. Era muito sofrimento. Para o meu pai também, que agora está debilitado, com 76 anos. E essa cura foi algo divino. Eu digo que ele tem dois aniversários e agora, dia 12 de outubro, vamos comemorar 7 anos de cura”, comentou.
Durante a missa, Luciana contou que o público presente cantou um hino da igreja. “É o hino Tebeum, que é importantíssimo e tocando em eventos de ordenação, canonização e beatificação, como é o caso do Carlo. Nessa hora, achei emocionante demais. Agora, o que eu pedia e falava escondido, vou poder falar sempre: Carlo Acustis, rogai por nós. Pretendo agora continuar divulgando para todo mundo esse milagre e pedir a intercessão dele. Sei que muitas pessoas estão recebendo graças”, finalizou.
*com informações G1