O histórico criminal foi determinante para a Justiça converter a prisão em flagrante em preventiva do músico de 35 anos que matou a esposa Vanessa Ricarte, de 42 anos, em crime ocorrido na cidade de Campo Grande, na quarta-feira (12). Nesta sexta (14), ele passou pela audiência de custódia e, com a decisão, aguarda agora pela transferência para algum presídio estadual de Mato Grosso do Sul, onde permanecerá à disposição da Justiça.
O juiz Valter Tadeu Carvalho, responsável pela audiência, destacou que o réu tem maus antecedentes e o classificou como um perigo para a sociedade e que, solto, pode cometer novos crimes. “O autuado possui histórico de envolvimento em crimes de violência doméstica, conforme se verifica em antecedentes. (…) é vezeiro em condutas dessa natureza, o que evidencia sua periculosidade e a necessidade da prisão para prevenir novas infrações”, consta na decisão.
O músico acumula uma longa ficha criminal relacionada ao crime de violência doméstica, além de roubo, ameaça e difamação. Constam seis medidas protetivas concedidas pela Justiça no seu desfavor, todas solicitadas por ex-companheiras; a última dessas foi da própria vítima, registrado horas antes do feminicídio. Na ficha do autor, há relatos de agressão, violência psicológica, perseguição e intimidação. Ele também é usuário de drogas, segundo o depoimento de amigos e da família.
Ameaçou matar mãe e a irmã
Entre os processos pelo quais é réu, consta um praticado contra a sua própria mãe. Em 2021, ela foi até a Delegacia Especializada no Atendimento À Mulher (DEAM) e registrou o boletim de ocorrência após ter sido agredida por ele, que tinha consumido drogas momentos antes e apresentava comportamento agressivo.
Na versão da mulher, o filho teve uma discussão e tomou o seu celular e uma faca, ameaçando se matar, porém, declarou que antes mataria a própria mãe e a irmã. As duas conseguiram fugir da casa e, com ajuda de familiares, acionaram a Polícia Militar. Mãe e filha pediram medidas protetivas contra o rapaz.
O feminicídio
Segundo o registro, a vítima, que trabalhava como jornalista em um órgão público estadual de Mato Grosso do Sul, tinha ido pela manhã na Casa da Mulher Brasileira registrar o caso de agressão ocorrido na noite anterior e pediu a medida protetiva. Ao retornar para sua casa, no bairro São Francisco, encontrou o autor e tiveram uma discussão.
O companheiro passou a agredi-la com tapas e aplicou três golpes de faca próximo ao coração. Vizinhos escutaram os gritos e foram tentar ajudar, mas o sujeito ameaçou investir e então chamaram a Polícia Militar. Depois, outras pessoas conseguiram arrombar o portão da casa e deter o autor, que acabou preso em flagrante.
A jornalista foi socorrida pelo SAMU e o Corpo de Bombeiros, sendo encaminhada para a Santa Casa, onde passou por uma cirurgia no coração e não resistiu, falecendo em seguida. Amigos disseram que a profissional iria se mudar da casa. O casal estava morando junto há cerca de três anos, mas vizinhos detalharam histórico de brigas e gritarias.
Protesto acontece no sábado
O Sindicato de Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul (Sindjor/MS) vai realizar no sábado (15) um ato, intitulado “Justiça por Vanessa, Basta de Feminicídio”, para chamar a atenção dos poderes públicos e de toda a sociedade para reivindicar providências no que tange políticas públicas no combate à violência contra a mulher e o feminicídio.
O protesto será realizado a partir das 9h, no calçadão da Rua Barão do Rio Branco, na esquina com a Rua 14 de julho. Durante a mobilização, o Sindicato e demais entidades participantes vão apresentar propostas aos representantes públicos para tornar o combate à violência contra mulher mais eficiente, como o cadastro de agressores.
“O Sindjor-MS conclama a toda a sociedade sul-mato-grossense a agir contra esse verdadeiro flagelo que é a violência contra a mulher de toda ordem: feminicídio, violência moral, sexual e física. É preciso dar um basta e essa é a mensagem que levaremos neste ato”, disse o presidente do Sindjor MS, Walter Gonçalves.