Valor de um corpo rochoso espacial depende de sua raridade e se for um pedaço de Marte ou da Lua podem valer mais
Um agrônomo da cidade de Iraí de Minas, a 479 quilômetros de Belo Horizonte, chamou a atenção de internautas após divulgar imagens de um material rochoso que ele suspeitava ser um meteorito caído em sua fazenda, em Chapadão dos Cocais, na noite da última sexta-feira (14).
Um meteoroide é um fragmento de asteroide ou cometa que se desprendeu, vagou pelo espaço até entrar na órbita da Terra, sobreviveu à passagem pela atmosfera e, enfim, caiu no solo.
O caso ganhou tamanha repercussão que começaram a ser compartilhadas na internet imagens de um suposto anúncio da rocha em um site de vendas. O homem negou que havia feito a publicação que cobrava R$ 15.900 pelo item espacial encontrado por ele. O alto preço cobrado chamou atenção e muitas pessoas se questionaram: “Quanto pode valer um meteorito?”
Segundo um dos fundadores da SMB (Sociedade Meteorítica Brasileira), André Moutinho, que é descobridor, colecionador e vendedor de meteoritos, ao contrário do que muitos podem pensar, um meteorito não é nenhuma pedra preciosa e pode ser adquirido por valores bastante acessíveis no mercado. O preço varia muito e depende de fatores como quantidade de material e da raridade.
“Não existe uma tabela de preço. Geralmente, vale o que alguém concorda em pagar. Mas, é certo que um meteorito que caiu no ano passado e existe em abundância por aí custa muito menos do que um meteorito que caiu há bilhões de anos e só existe em museu, por exemplo”, afirma.
“Tem meteoritos comuns que eu vendo por R$ 50, R$ 100. Já meteoritos mais raros, como os planetários ou lunares, por exemplo, são possíveis de serem adquiridos no e-Bay por 40 dólares ou 50 dólares (entre R$ 218 e R$ 272) a grama”, completa.
Com um fragmento de Marte e outro da Lua em mãos, Moutinho explicou à reportagem o que são meteoritos planetários e lunares: literalmente, fragmentos da crosta de planetas e da Lua, respectivamente, que se desprenderam ao serem atingidos por um ou mais asteroides há bilhões de anos. Eles, então, foram lançados no espaço e, eventualmente, entraram na órbita da Terra e caíram em solo terrestre. Os primeiros meteoritos lunares chegavam a custar milhares de dólares a grama. Hoje, no entanto, sabe-se que não se trata de um material tão incomum assim.
O colecionador conta que, por um meteorito lunar, pagou, à época, 20 dólares (R$ 109) a grama. Com o tempo, no entanto, o preço subiu e, atualmente, cada grama está custando cerca de 40 dólares (R$ 218). Já pelo meteorito marciano, o valor foi um pouco mais elevado: aproximadamente 100 dólares (R$ 545) a grama.
Outro tipo de meteorito considerado raro são os chamados hammer.O nome é dado àqueles que atingiram pessoas ou coisas durante a queda e, por isso, são considerados exóticos. Moutinho tem um meteorito que colidiu com o telhado de um morador da cidade de San Carlos, no Uruguay, em janeiro de 2019, mas não pagou nada pelo item, apenas trocou por outro meteorito.
O colecionador ressalta que a raridade de um meteorito está atrelada à sua ocorrência — isto é, à chance de cair na Terra —, e não à composição das rochas. Isso porque todos os meteoritos são formados por elementos químicos que também existem no nosso planeta.
Há alguns minerais raros que só estão disponíveis em meteoritos, mas em quantidades ínfimas e sem nenhuma aplicação prática — diferentemente de diamantes, por exemplo, que são utilizados na indústria. Portanto, meteoritos por si só não têm valor financeiro.
Como não ser enganado?
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Segundo Moutinho, a maneira mais fácil de se adquirir um meteorito é, claro, comprando de alguém. Mas, antes é importante conhecer a procedência da rocha e verificar a confiabilidade do vendedor.
É possível consultar se o nome da pessoa consta nas listas oficiais de colecionadores divulgadas por associações internacionais, como a IMCA (International Meteorite Collectors Association) e a GMA (Global Meteorite Associaton). Entrar nessas listas não é nada simples. O colecionador precisa receber a indicação de duas pessoas, que, por sua vez, precisam justificar a recomendação.
Outra maneira de se adquirir um meteorito, ainda que mais complexa, é tentar à sorte e sair à campo em busca de um. O colecionador ressalta, que esta é uma tarefa um pouco complicada no Brasil. Até o momento, pouco menos de 90 meteoritos foram descobertos por aqui— em comparação com mais de 2 mil meteoritos descobertos nos Estados Unidos, por exemplo. Os motivos são diversos.
No Brasil, o clima é mais úmido, e a umidade, de acordo com Moutinho, é a inimiga número um dos meteoritos porque faz eles se deteriorarem mais rapidamente. Além disso, a maior parte do território tem vegetação, o que atrapalha a visibilidade. Nos EUA, por outro lado, o clima é mais seco e existem muitos desertos. Isso faz com que essas rochas espaciais fiquem preservadas por mais tempo. De toda forma, aqueles que se aventurarem na busca por meteoritos, devem atentar à algumas características básicas.
(Foto: ARQUIVO PESSOAL)
“Quando meteoritos caem na superfície, eles geralmente são bem pretos e vão se deteriorando com o tempo, ficando, assim, com uma cor mais amarronzada. Por dentro, devido à grande quantidade de ferro presente nessas rochas, elas tem uma cor prateada, semelhante à de aço inox”, diz.
“Outra característica é o formato dessas pedras, que, pelo fato de sofrerem um impacto muito grande com a atmosfera, são moldadas pelo ar e acabam adquirindo uma forma arredondada. Caso a pedra tenha um formato muito regular, desconfie: é bastante improvável que se trate de um meteorito”, completa.
Fonte: R7