Uma delegação de empresárias de Mato Grosso do Sul fez história ao participar da primeira missão internacional exclusiva para mulheres, promovida pelo Sebrae/MS. De 19 a 25 de outubro, o destino foi Iquique, na região de Tarapacá, Chile, que, com sua localização estratégica e a presença da Zona Franca, se destaca como um ponto-chave para o comércio brasileiro. A missão resultou em mais de R$880 mil em prospecção de negócios.
Composta por 20 pessoas, sendo 11 empreendedoras representando 10 empresas, a missão teve como objetivo aproximar os mercados e facilitar a internacionalização das participantes da Jornada Global do programa Sebrae Delas. Durante a semana, elas participaram de uma agenda repleta de atividades, incluindo rodadas de negócios com 30 empreendedores chilenos, visitas à Zona Franca e ao Porto de Iquique, reunião com a Corporação de Desenvolvimento de Tarapacá e entidades ligadas ao comércio local, entre outros.
Essa medida está alinhada à estratégia do Sebrae/MS de incentivar os pequenos negócios a aproveitarem as oportunidades com a construção da Rota Bioceânica, que promoverá a conexão entre Brasil, Paraguai, Argentina e Chile, ligando os oceanos Atlântico ao Pacífico. Neste contexto, Mato Grosso do Sul é um território-chave para a consolidação da rota, onde as micro e pequenas empresas representam 85% do total de empreendimentos formalizados.
“Entendemos que a Rota Bioceânica é uma grande oportunidade de mercado para os pequenos negócios e não só de comércio exterior, ou seja, exportação. Entendemos que novos produtos chegarão por essa rota e temos a possibilidade de incrementar novos negócios no estado. Junto ao escritório de Tarapacá, construímos uma agenda absolutamente técnica para esta aproximação com o mercado chileno. As empresárias de Mato Grosso do Sul estão desbravando o território e acreditamos que muitos acordos comerciais serão firmados”, afirma a diretora-técnica do Sebrae/MS, Sandra Amarilha.
As empresas envolvidas na ação são de diferentes segmentos e regiões de Mato Grosso do Sul, enfatizando a diversidade do empreendedorismo feminino. Em comum, elas já estão estabelecidas no comércio interno e buscam agora oportunidades de internacionalização. São elas: A moda da Bru, Andresa Lima Consultoria, Bizi Água de Coco, Café Agricultor, Fazenda Pontal das Águas, MADAM Joias, Pureza Alimentos Congelados, Sapicuá Pantaneiro, Ybá Cosméticos, Zanir Furtado Bolsas e Acessórios.
Desde o começo do ano, elas participaram de capacitações e consultorias que totalizaram pelo menos 40 horas. Essas ações foram fundamentais para o desenvolvimento pessoal e dos negócios, preparando-as para as negociações e para trazerem oportunidades para Mato Grosso do Sul. “São empresárias que já estão em um nível mais elevado de comercialização, que estão estabelecidas no mercado interno. Desde o que foi planejado no início, o plano de ação foi direcionado para que elas se preparassem para a comercialização internacional”, explica a consultora do Sebrae/MS, Andréa Afif, especialista em comércio exterior.
Por que o Chile?
O mercado chileno se destaca como um destino promissor para negócios e parcerias comerciais, especialmente com países da América do Sul, como o Brasil. Um dos principais atrativos é a Zona Franca de Iquique, que impulsiona o desenvolvimento econômico da região, conectando mercados globais. Essa zona oferece benefícios aduaneiros, como a isenção de impostos e taxas sobre mercadorias, gerando cerca de 45 mil empregos diretos e indiretos. Dentro da Zona Franca, o Shopping Zofri se destaca como o principal centro comercial do norte do Chile.
Outro diferencial é a infraestrutura logística do país, especialmente por meio do Porto de Iquique, que facilita a exportação e importação de produtos, servindo como porta de entrada para mercados asiáticos e do Pacífico. “Acreditamos que o porto de Iquique é a rota pela qual muitas mercadorias podem sair da região de Mato Grosso do Sul. E não só com as exportações, mas também com as importações. Aqui há a possibilidade para o produtor do Brasil de trazer produtos como fertilizantes e o sal, que são necessários para a atividade agrícola florestal”, declara Rubén Rosas Matamala, vice-gerente de assuntos corporativos da Empresa Portoria Iquique (EPI).
Um estudo apresentado pela EPI revelou que Mato Grosso do Sul apresenta uma taxa de crescimento das exportações para o Chile de 139%, ocupando a sexta posição no ranking de estados brasileiros nesse tipo de transação.
A classe empresarial de Iquique também tem demonstrado boas práticas que podem servir de aprendizado para o Brasil. Organizados em diferentes entidades, os empresários buscam fortalecer e promover seus negócios. Um exemplo é a AGATA, uma associação gastronômica em Tarapacá que une tradição culinária e inovação, oferecendo experiências únicas que celebram a diversidade de sabores.
Com 28 associados, a AGATA reúne alguns dos melhores restaurantes de Iquique. Susana Cornejo, presidenta da associação e empresária no ramo da gastronomia, destaca a importância da organização para a economia local. “A organização é importante porque consegue reunir e convocar os melhores restaurantes e certificá-los no seu trabalho cotidiano, para se ligar ao resto da cidade. Acho espetacular que Mato Grosso do Sul queira se vincular a essa parte do país porque historicamente somos uma cidade que trabalha com isso”, pontua.
A AMET, associação de empresárias de Tarapacá, também se destaca, reunindo mulheres de diversas áreas, como gastronomia, logística e turismo. Desde 2018, a presidenta Yesenia Almirante ressalta a necessidade de empoderar as mulheres. “Vimos a oportunidade de nos organizarmos, já que temos um histórico de boas pagadoras. Esta aproximação é crucial, especialmente com o novo corredor bioceânico, que oferece grandes oportunidades de negócios entre Brasil e Chile. Estou interessada em parcerias com mulheres brasileiras, especialmente nos setores de cosméticos, joias e produtos turísticos”, disse.
A força do empreendedorismo feminino
Na avaliação de quem participou da missão, a iniciativa promoveu um fortalecimento do empreendedorismo feminino. “Todas as empresárias fizeram negócios. A missão superou as expectativas das participantes em relação à receptividade, programação de alto impacto, organização e resultados significativos na rodada de negócios”, comenta a gestora do programa Sebrae Delas, Vânia Bispo Torraca.
“É de suma importância poder fortalecer os vínculos comerciais que temos entre Brasil e a nossa região de Tarapacá, e especialmente quando isso ocorre com mulheres. O empoderamento da mulher no âmbito empresarial é algo que nos deixa muito satisfeitos e estamos entregando as ferramentas necessárias a elas através do Sercotec (Serviço de Cooperação Técnica), com 450 usuários sendo a maioria de mulheres, e acompanhamos o seu processo de formalização, como também o cumprimento de seus objetivos”, defende Álvaro Jorquera Tapia, gerente geral da Corporação de Desenvolvimento da Região de Tarapacá.
“Vamos continuar promovendo possibilidades de pequenos e médios negócios com o Brasil, porque nosso destino é estar junto com toda a América do Sul neste grande projeto que é a Rota Bioceânica. Agora é apenas o começo. Hoje cabe a nós visualizar junto aos nossos microempreendedores do Chile e do Brasil que esse grande motor de desenvolvimento existe”, finaliza o Assessor Internacional da Corporação de Desenvolvimento Regional de Tarapacá, Jaime Valenzuela.