Preso na quarta-feira (25), em Dourados, por participar de um grande esquema milionário de lavagem de dinheiro, o empresário de 47 anos confessou, em depoimento, que já atuou no ramo de investimentos e que movimentou quase R$ 22 milhões através de uma de suas empresas de criptomoedas. A investigação do caso, em Pernambuco, solicitou o bloqueio de mais de R$ 85 milhões da empresa que está no nome dele.
A operação foi batizada de “Intruso”, tendo sido desencadeada pela Polícia Civil de Pernambuco e que contou com apoio de policiais de Mato Grosso do Sul. Além da prisão do empresário, também foram apreendidos na posse dele diversos computadores, celulares, dinheiro em espécie e joias que estavam guardados em um cofre na casa dele.
A investigação foi iniciada em julho de 2020 com o objetivo de identificar e desarticular uma organização criminosa voltada à prática dos crimes de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Naquele ano, a polícia apreendeu um carregamento de 650 kg de maconha em Pernambuco. Nos tabletes, haviam selos com as iniciais de uma organização criminosa. Dois anos depois a polícia conseguiu o afastamento do sigilo bancário e fiscal de investigados e obteve a pedido de prisão de empresário e de outros 16 envolvidos, além de 24 ordens de busca e apreensão.
“São transações envolvendo estrangeiros de país produtor de cocaína, pessoas com antecedentes por tráfico e outros crimes, empresas aparentemente de fachada”, afirmou o juiz Lucas Tavares Coutinho, da 4ª Vara Criminal de Recife (PE), no despacho em que determinou a prisão e as buscas nos três endereços ligados ao empreesário em Dourados.
Relatórios de movimentações financeiras dos investigados, anexados ao pedido de prisão, mostram que a empresa recebeu créditos de R$ 21.968.225,83 e teve débitos de R$ 21.962.531,69. O período em que esses valores foram movimentados não é citado nos documentos obtidos pela reportagem.
Na delegacia, ele negou a desbloquear o celular e os computadores apreendidos em três endereços ligados a ele e à sua esposa. No depoimento, o empresário disse ter renda mensal de R$ 15 mil no ramo de criptomoedas, negou envolvimento com o tráfico de drogas e com lavagem de dinheiro e se manteve em silêncio quando perguntado se possuía armas. Ele afirmou possuir conexões comerciais e empresariais em diversos estados brasileiros, principalmente em São Paulo, mas alegou não saber a origem dos recebimentos devido ao grande número de transações.
De acordo com o titular da SIG em Dourados, Eliel Raimundo, as investigações dizem que o procedimento usado para disfarçar a origem de recursos ilegais era realizado por meio de transações de valores na internet, como investimentos em moedas digitais. “As forças de segurança pública de Pernambuco contactaram a Sejusp solicitando apoio para o cumprimento dos mandados judiciais. Foram apreendidos diversos aparelhos eletrônicos que podem ter sido usados para lavagem de dinheiro do tráfico de drogas através das ‘criptomoedas’”, explicou. Segundo o delegado, os computadores seriam instrumentos usados para cometer o crime fiscal investigado pela operação.
Para a investigação, o empresário preso em Dourados poderia atuar como uma espécie de “contador”, que lavava dinheiro para organizações criminosas. O advogado de defesa do investigado já adiantou que irá pedir o habeas corpus dele. O processo está em segredo de Justiça.