O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) apresentou, nesta sexta-feira (24), no Palácio da Justiça, em Brasília (DF), um estudo inédito sobre os nitazenos, um grupo de Novas Substâncias Psicoativas (NSP) com alta potência e riscos elevados. Intitulado “Nitazenos: Caracterização e Presença no Brasil”, o documento reúne dados nacionais e internacionais para alertar sobre os perigos dessas substâncias, cuja presença tem crescido no País.
De acordo com a titular da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad), Marta Machado, o objetivo do estudo é monitorar os riscos e preparar o Brasil para enfrentar uma possível escalada do uso dessas drogas. “A questão é preocupante, não por sua disseminação, mas pela potência e pelos perigos relacionados”, afirmou.
O levantamento foi elaborado em parceria com o Centro de Estudos sobre Drogas e Desenvolvimento Social Comunitário (Cdesc), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc). A publicação é baseada em dados de laboratórios forenses, centros de assistência toxicológica e grupos de redução de danos no Brasil.
Apreensões e dados preocupantes
A pesquisa revelou que, entre julho de 2022 e abril de 2023, os nitazenos estavam presentes em 95% das amostras analisadas pela Polícia Civil de São Paulo (133 de 140). O metonitazeno foi a substância mais frequentemente identificada, geralmente em forma de vegetal seco, sugerindo uso por inalação.
Além de São Paulo, os estados de Minas Gerais e Santa Catarina, bem como a Polícia Federal (PF), já identificaram nitazenos em apreensões. A circulação dessas substâncias parece concentrada no eixo Sul-Sudeste, o que reforça a necessidade de medidas preventivas regionais.
A nível global, países como Estados Unidos, Canadá, Alemanha e Reino Unido têm relatado o aumento da circulação de nitazenos desde 2019, segundo o estudo.
Riscos e impacto social
Desenvolvidos na década de 1950 como potenciais analgésicos, os nitazenos nunca foram comercializados devido ao alto potencial de abuso e overdose. Substâncias do grupo podem ser centenas ou milhares de vezes mais potentes que a morfina, aumentando o risco de dependência, parada cardíaca e morte.
“Os nitazenos ganharam atenção devido à sua alta potência e aos riscos extremos que representam. Compartilhar conhecimento baseado em evidências é essencial para combater essa ameaça global”, afirmou a diretora do Unodc no Brasil, Elena Abatti.
Ações do governo
Como parte da resposta, a Senad lançou o Programa Nacional de Integração de Dados Periciais sobre Drogas (PNID) em parceria com a PF e anunciou iniciativas com o Unodc para apoiar países que ainda não possuem sistemas consolidados de alerta rápido sobre drogas.
Também foram mencionadas ações em andamento, como a instituição do Subsistema de Alerta Rápido sobre Novas Drogas (SAR) e a reconstrução do Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (Obid).
O diretor técnico-científico da PF, Carlos Eduardo Palhares Machado, ressaltou a importância do trabalho integrado. “Estudos como este mostram a necessidade de políticas públicas assertivas e baseadas em evidências para combater o impacto das drogas em nossa sociedade.”
Recomendações do estudo
O relatório sugere adoção de medidas em múltiplas frentes para monitorar o uso e reduzir os danos associados aos nitazenos. Entre as recomendações, destaca-se a necessidade de ampliação do conhecimento sobre essas substâncias, fortalecimento dos sistemas de alerta rápido e maior integração entre órgãos públicos e internacionais.
A apresentação do estudo reforça a preocupação das autoridades brasileiras com a saúde pública, segurança e prevenção de uma possível crise gerada pela disseminação dessas substâncias no País.