Em meio ao debate sobre o combate à violência contra as mulheres durante sessão desta terça-feira (18), na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS), a deputada Gleice Jane (PT) usou a tribuna para defender que é preciso investir em educação e falar abertamente sobre as relações de gênero. Ela ressaltou que a política de capacitação aos servidores que estão no atendimento direto às mulheres em vulnerabilidade é urgente, seja aos que atuam nas polícias, como nas pastas da Educação e Saúde.
“A gente percebe que como não há um letramento de gênero as pessoas não conseguem determinar quando acontecem essas situações de violência. Tivemos, por exemplo, com a Vanessa [jornalista morta pelo ex] muitas falas de que ela estava apaixonada. Oras, isso não diz respeito às violências contra as mulheres. Elas têm direito a se apaixonar sim e nem por isso devem ser vítimas. Tem outra tentativa de feminicídio recente, em que disseram que o agressor estava com ciúmes. Mulheres também têm ciúmes, nem por isso matam. Enfim, há servidores que erram, porque não sabem qual tratamento se deve dar”, criticou a deputada.
Para tanto, ela explicou que é preciso ter um trabalho de transformação educacional, para que mulheres não sejam mais culpabilizadas pela violência que sofrem e essa conscientização passa pela garantia aos professores, por exemplo, para poderem falar dentro de sala de aula sobre os assuntos de sexualidade e gênero, que hoje se tornaram restritos, comparando que quando cursou a oitava série pôde apresentar uma feira de ciências sobre o uso da camisinha abertamente em sua escola.
“Para fazer o debate sério ao enfrentamento é preciso falar sobre diversos conteúdos, como o corpo humano, sobre as relações, mas hoje as professoras têm medo de falar. A gente tem número altíssimo de assédio nas escolas. E como vamos combater se a gente não fala onde o problema está? É fundamental que mulheres e meninas estejam protegidas em todos os espaços. Temos que ter segurança de falar sobre o assunto. Não podemos proibir mulher trans circular em uma escola. Mulher trans é mulher. Ela precisa de segurança, ela tem o direito de ir e vir, não podemos questionar esse direito, ao questionar isso dentro da educação nós estamos legitimando outra violência”, defendeu Gleice.
Avançar nas políticas públicas
Com o grupo de mulheres do Partido dos Trabalhadores junto a outros grupos de mulheres que sofreram violências e mães de vítimas de violência, a deputada contou que participou de conversas com os demais poderes para galgar avanços nas políticas públicas.
“Foram reuniões produtivas em que elas relataram situações com deficiências do sistema que precisam ser sanadas. Apresentamos projetos de leis no intuito de poder avançar. É preciso ter um trabalho de transformação das relações entre homens e mulheres, ter coragem de enfiar o dedo na ferida e falar sobre o que está acontecendo. Ontem o governador disse que dinheiro não é problema, então tem que mostrar onde está sendo destinado esse recurso, porque falta financiamento para as políticas de combate, a começar pelo número de servidoras atuando na Subsecretaria de Mulheres, que antes eram 15 e agora apenas seis. Isso diz muito”, finalizou.
Famílias ?
O deputado Rinaldo Modesto (Podemos) pediu aparte e disse que é preciso voltar o olhar também às famílias.
“Volto lá no status quo da família, que é a base da sociedade. Se tivéssemos tudo organizado, mas não. Temos a Lei Maria da Penha, que funciona, já ajudou a salvar milhares de mulheres. No outro lado é mesmo investir na educação, concordo. Também precisamos falar do princípio de tolerância e de amor ao próximo”, disse o deputado, que também apresentou projeto para que agressores tenham que ressarcir o dinheiro gasto pelo Poder Público com o atendimento às mulheres vítimas de violência.
Em outro debate no dia de hoje, os deputados também falaram sobre a cooperação técnica entre os Poderes contra a violência doméstica – veja aqui.
Denuncie
Em caso de flagrante violência ligue para a Polícia Militar pelo disque 190.
Denúncias e informações: ligue 180.
Patrulha Maria da Penha: ligue 153.
Casa da Mulher Brasileira: Rua Brasília, lote A, quadra 2 – Jardim Imá. Telefone: 2020-1300.
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