Prestes a completar 20 anos de seu lançamento, que aconteceu em 2004, Homem-Aranha 2 segue firme como um marco na cultura pop. O filme do cineasta Sam Raimi impactou gerações ao misturar perfeitamente drama, ótimas cenas de ação, suspense e comédia, com elenco e equipe extremamente competentes.
Nas últimas duas décadas, o querido personagem da Marvel já ganhou diversas adaptações para os cinemas e para a TV, sendo interpretado em live-actions, desde 2001, por três atores: Tobey Maguire, Andrew Garfield e por Tom Holland. Cada pessoa pode ter um ou mais favoritos, mas é fato que o trio desempenhou bem o papel e conquistou muitos fãs, até se juntando no apoteótico Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, de 2021.
Primeiro intérprete do herói, Tobey brilha em Homem-Aranha 2, capturando a essência do jovem Peter Parker, que se encontra em um momento turbulento.
Dois anos após ter sido picado por uma aranha geneticamente modificada e ganhar poderes, ele não consegue achar o equilíbrio entre a vida pessoal, o lado profissional e as funções como herói em Nova York.
Peter está com dificuldades financeiras, se desdobrando para faturar qualquer dinheiro como entregador de pizzas e fotógrafo, perdido em seus sentimentos por Mary Jane, personagem da excelente Kirsten Dunst, e abrindo mão de tudo para poder salvar a cidade dos mais variados perigos.
O protagonista pode até não estar com a vida em harmonia, mas o roteiro consegue balancear de maneira esplêndida os tons do filme. As cenas transitam com facilidade entre os diferentes gêneros, sem que nada pareça forçado ou brusco. As piadas, por exemplo, fluem e completam a energia divertida que sempre acompanhou Parker, desde as histórias originais dos quadrinhos.
O humor é, inclusive, um dos pontos altos do longa. Vale fazer aqui mais um elogio a Tobey Maguire, que tem um timing cômico apurado e entrega cenas hilárias, que funcionam naturalmente. Dono do Clarim Diário, jornal para o qual Parker trabalha, J. Jonah Jameson é outro personagem que se destaca por seu lado engraçado, em uma das interpretações mais amadas do premiado ator J. K. Simmons.
Além de Simmons, o elenco tem nomes veteranos poderosos como Rosemary Harris, que encanta como a querida Tia May, e Alfred Molina, que dá um show como o vilão Doutor Octopus.
O cientista com braços mecânicos é um dos maiores acertos da trama, garantindo momentos que já se tornaram icônicos na história do cinema. Considerado um dos mestres do terror moderno, Sam Raimi aplica aqui seu talento para comandar cenas que parecem mesmo tiradas de algum filme aterrorizante, como a cirurgia do Doutor Octopus.
Toda a parte visual de Homem-Aranha 2 também impressiona, com uma mescla de efeitos práticos bem executados e computação gráfica de nível elevado para a época, que não deve quase nada para os filmes atuais.
Raimi e sua equipe dão vida para a Nova York de Peter Parker, colocando a cidade como conexão fundamental para as aventuras e obstáculos do herói. A cena da batalha no metrô é talvez uma das mais empolgantes e emocionantes já feitas em qualquer produção do tipo até hoje.
Na parte dramática, o roteiro torna os personagens, que já são cativantes, ainda mais profundos, apresentando suas batalhas pessoais e dilemas. O Homem-Aranha é tão humano quanto qualquer pessoa, sofrendo por amor, por dinheiro e até enfrentando problemas com sua saúde mental e física.
No fim, o longa passa uma bela mensagem sobre “fazer a coisa certa”, ser gentil sempre que possível e estar cercado de pessoas que você ama. Prestar atenção ao que e a quem está ao seu redor, mesmo na correria do cotidiano. Fazer escolhas, já que não é possível “abraçar o mundo”, mas valorizar quem sempre esteve com você.
Em uma das ótimas cenas entre Peter Parker e May, a tia do estudante diz que cada pessoa tem um herói dentro de si. E a reflexão é muito mais do que um incentivo para qualquer um realizar atos heroicos, mas sim dizer que a essência de alguém que faz o bem existe em todos nós. Pode parecer piegas, e o filme até tem alguns momentos assim, mas não de uma maneira ruim, muito pelo contrário. Tudo se amarra de um jeito que, ao final, você sente como se tivesse ganhado um abraço do “amigo da vizinhança”.
Revisitado depois de algum tempo, Homem-Aranha 2 prova que está envelhecendo muito bem, mantendo sua posição como um melhores filmes de heróis de todos os tempos e, mais do que isso, uma experiência cinematográfica de qualidade tão alta quanto os arranha-céus nos quais o personagem se pendura com suas teias.
Fonte: R7