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quinta-feira, 31 de outubro, 2024
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Mudança no perfil dos turistas de pesca fortalece economia com sustentabilidade

“Quem está te falando isso é alguém que já pescou muito: a emoção de você pegar um peixe grande e soltá-lo é muito maior do que quando você o pesca e mata”. A frase do empresário do setor de turismo de pesca Ademilson Esquivel é reveladora ao demonstrar o quanto a prática do pesque e solte é uma realidade presente no cotidiano daqueles que fazem da pesca mais que um lazer, um esporte.

Diante de inúmeras discussões sobre cotas e demais situações envolvendo a pesca, inúmeros empresários do turismo de pesca de Mato Grosso do Sul optaram pela pesca esportiva, o pesque e solte, a tornando rentável e sustentável para o setor.

“Para nós, agora já é a abertura da temporada de pesca, pois desde 2019 optamos deixar de lado essas discussões e aderir 100% ao pesque e solte. Em nossa associação, dos 24 barcos, 23 são exclusivos para o pesque e solte durante toda a temporada de pesca”, explica Ademilson, integrante da (Associação Corumbaense das Empresas Regionais de Turismo), principal instituição do setor em Mato Grosso do Sul.

Há 23 anos no setor, Esquivel frisa que há décadas os empresários do turismo de pesca que atuam no rio Paraguai consideram o período de liberação do pesque e pague como a abertura geral de temporada de pesca, tanto que vem sendo percebido durante vários anos uma mudança no perfil desses turistas que chegam ao Estado.

A existência de uma mudança de perfil vem acompanhada da ideia de sustentabilidade, o que prova que o pesque e solte vai além do lazer quando é entendido de forma mais complexa. “São 165 mil peixes adultos e em idade de reprodução que deixam de ser retirados dos rios. Quando você entende isso, muda seu pensamento, cria-se uma maturidade empresarial. Nossa ‘vibe’ agora é outra”, frisa Ademilson.

Estudo confirma retorno de turistas

O empresário sustenta que desde 2010 pesquisas vem sendo feitas pela Acert para saber se, adotado exclusivamente a modalidade pesque e solte, os turistas voltariam ao Estado. A taxa de retorno era de 70%, sendo que até 2019 apenas metade dos turistas optavam por levar o peixe embora ao invés de devolvê-lo ao rio.

“Dos grupos que tinha, eu perdi só um, e te digo com toda a clareza que a pessoa que vem aqui e não quer devolver o peixe, para mim não serve. É insensível à situação. É a mesma coisa de fazer um passeio ecológico e jogar o lixo no chão”, destaca Esquivel, que projeta para um futuro breve o uso de iscas artificiais, já realizado treinamentos quanto a isso e até sobre o correto manuseio de peixes, reduzindo mortandade.

Mais mulheres, mais famílias, mais empregos

Parte dessa mudança de perfil parte da consciência de sustentabilidade e de uma crescente adesão de mulheres e famílias à pesca, antes associada ao público masculino, em viagens individuais ou em grupos de amigos. “Hoje temos um 1/3 do nosso público formado por essas famílias”, frisa o Ademilson, que completa.

“Realizamos um evento chamado Anzol Rosa. Foram 508 mulheres participantes, que ficaram uma semana em um barco no Pantanal, pescando. Temos assim uma clara mudança de público, perfil e de pensamento”, destaca o empresário, ressaltando que os barcos-hotéis hoje possuem sistemas de tratamento de água, climatização e até piscinas.

Os números da Acert indicam um impacto extremamente positivo da pesca esportiva para Corumbá. São 998 empregos diretos com o turismo de pesca, gerando R$ 15 milhões apenas em folha salarial por ano – ou seja, é um dinheiro que chega à Corumbá vindo de outros locais e fica por lá, abastecendo tanto grandes como pequenos negócios.

Segmento forte e que traz retorno

Em especial nos últimos cinco anos, vários segmentos são trabalhados pela Fundtur (Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul) para serem fortalecidos, e um dos principais nesta lista é a pesca esportiva, que conta com campanha específica e promoção já pronta para ser realizada a partir do final de fevereiro.

“Pesque e solte, volte sempre. Esse é o nome da nossa campanha para fomentar o setor. Também participamos do Pesca Trade Show, levando uma caravana até lá para divulgar a nossa pesca esportiva, isso sem contar o apoio que damos na realização de cursos em várias regiões”, comenta o diretor-presidente da Fundtur, Bruno Wendling.

O dirigente comenta ainda que o segmento é um dos mais importantes para o turismo sul-mato-grossense, pois ele tem oferta muito qualificada e grande estrutura, estando os barcos-hotéis da região de Corumbá entre os melhores do país.

“Isso gera sem sombra de dúvidas um aumento fluxo, do ticket médio, e movimenta muito economia. É o barqueiro, o piloteiro, o garçom, todos saem ganhando e qualidade do serviço prestada acompanha. É um fruto que colhemos, pois o trabalho do Governo foi para potencializar nossas virtudes. A taxa de retorno do turista de pesca em Mato Grosso do Sul é superior a de outros segmentos”, conclui Wendling.

Temporada do pesque e solte

Válida desde 1º de fevereiro, a liberação para realizar o pesque e solte abrange toda a calha do rio Paraguai, na porção brasileira, e toda a calha do rio Paraná, na porção sul-mato-grossense, não estando liberado em outros rios do territórios sul-mato-grossense. Vale ressaltar que ainda estamos em período de defeso, quando a pesca para retirada do peixe sem retorno dele para a água é proibida.

A liberação da pesca em geral ocorre apenas no dia 1º de março. Até lá, os amantes da pesca podem participar do Fipec (Festival Internacional de Pesca Esportiva), que acontece em Corumbá desde 1990, sendo realizado pela Acert, que acontece entre este sexta-feira (3) e domingo (5).

O evento é um dos maiores da pesca esportiva em água doce no Brasil, contando com o apoio do Governo de Mato Grosso do Sul. A prova principal contará com 350 equipes, somando ainda 1,5 mil inscritos na categoria infanto-juvenil.

“O festival motiva o pesque e solte. A ideia de realizar o festival agora, no início da temporada de pesca esportiva, foi agora alcançada. Isso incentiva a modalidade e tem adesão dos turistas”, explica o presidente da Acert, Luiz Antônio Martins.

Ao todo, mais de R$ 100 mil em prêmios serão distribuídos na competição, que segundo a Fundação Municipal de Turismo do Pantanal, de Corumbá, movimentou mais de R$ 3,5 milhões na economia local, com mais de 1 mil empregos gerados e 10 mil pessoas passando pela cidade em três dias – a ocupação hoteleira ficou em 66%.

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