22.8 C
Campo Grande
sexta-feira, 27 de dezembro, 2024
spot_img

Ney Latorraca: relembre os principais papéis na TV, de ‘Escalada’ e ‘Vamp’ a ‘Novo Mundo’

Ney Latorraca, que morreu na manhã desta quinta-feira (26), marcou a história da dramaturgia no Brasil. A primeira novela dele na Globo foi “Escalada”, de Lauro César Muniz, exibida ainda em preto e branco, em 1975.

Ao longo da carreira foram diferentes personagens memoráveis como o conde Vladimir Polansk, em “Vamp” (1991). Na fictícia Armação dos Anjos, cidadezinha no litoral do Rio de Janeiro, Vlad disputava a roqueira Natasha (Claudia Ohana) com o capitão Jonas (Reginaldo Faria). Após onze anos do sucesso deste personagem, o ator viveu outro conde, o Nosferatu, em “Beijo do Vampiro” (2002).

“Ser eclético na arte é uma delícia para mim. Não é aquela coisa acomodada no sentimento. É sempre uma coisa de risco, mas de nível. As comédias, os musicais… Tudo é uma maneira de eu me exercitar. Mesmo com 80, me sinto como se estivesse na escola de teatro, começando tudo de novo,” disse em entrevista ao gshow, em julho deste ano.

Ney Latorraca interpretou Vlad na novela 'Vamp' — Foto: Nelson Di Rago/Globo
Ney Latorraca interpretou Vlad na novela ‘Vamp’ — Foto: Nelson Di Rago/Globo

O Barbosa, da “TV Pirata” (1988), integrava “Fogo no Rabo”, quadro do programa que ficou mais tempo no ar. O velhinho barrigudo não conseguia comandar a família, e só sabia repetir a última palavra que os outros diziam com aquele bico que conquistou o público.

Outro personagem inesquecível foi o “trígamo” Quequé, da minissérie “Rabo de Saia” (1984). O personagem mantinha três casamentos com esposas bem diferentes. Quem assistia à novela (confira o vídeo abaixo) não imaginava outro ator na pele de Quequé, mas o personagem não havia sido criado para ele.

Ney Latorraca faria outro papel na trama, mas, depois de ler o roteiro, se apaixonou pelo caixeiro-viajante mulherengo. O ator insistiu com o diretor Walter Avancini, que buscava outro perfil para Quequé, e acabou ganhando o personagem, um dos marcos da sua carreira.

A versatilidade de encarar qualquer papel também era uma marca de Ney. O ator pôde exercitar seu talento na novela “Um Sonho a Mais” (1985). O seu personagem Volpone passou a trama usando várias identidades secretas para despistar os seus inimigos, enquanto se aproximava da ex-mulher e desvendava o assassinato de seu sogro.

Ney Latorraca foi o médico Nilo Peixe, o industrial Augusto Melo Sampaio, o motorista André Silva e a executiva Anabela Freire, que no vídeo acima estava se casando com Pedro Ernesto (Carlos Kroeber). Anabela dizia que só se entregaria ao noivo quando se casassem na igreja e, depois do matrimônio, teve que pedir a separação para que o seu disfarce não fosse desvendado.

Ney Latorraca em "Um Sonho a Mais" (1985) — Foto: globo
Ney Latorraca em “Um Sonho a Mais” (1985) — Foto: globo

O veterano passava boa parte do seu tempo revendo os trabalhos que fez na Globo e que estão disponíveis no Globoplay, e não gostava do que assistia:

“Eu não tinha tempo de ver e hoje faria tudo diferente. Sou muito crítico. Me questiono porque fiz aquilo. Porque não fiz menos… Minha exuberância me leva para um caminho de realização que se eu danço tango, danço mesmo. Se é para chorar, eu choro. Vou com tudo! É uma delícia isso,” explicou ao gshow em recente entrevista.

Em 1990, Ney Latorraca transferiu-se para o SBT, onde atuou na novela “Brasileiras e Brasileiros”, de Carlos Alberto Soffredini e Walter Avancini, mas voltou no ano seguinte para Globo e transformou sua participação especial de nove capítulos no grande sucesso de “Vamp”. No primeiro dia de janeiro de 1994, sua mãe faleceu, o que mexeu muito com o ator.

“Minha vida deu uma parada, quase morri junto. Fiquei péssimo. Fiquei muito magro, com quase 50 kg. Nanini me convidou para fazer “O Médico e o Monstro”, e só aceitei para poder voltar a ensaiar”, confessou em depoimento ao Memória Globo.

Ney Latorraca em "Zazá" — Foto: globo
Ney Latorraca em “Zazá” — Foto: globo

Na época, atuou em “Zazá”, de Lauro César Muniz, em 1997: “Meu personagem era um vilão. Fui muito bem tratado pela imprensa, diziam que era a volta de Latorraca. Acho que era uma maneira de me agradar, porque sabiam que eu estava muito mal,” disse ao Memória Globo.

De volta ao trabalho, o ator fez várias participações em minisséries e especiais como “Você Decide e Brava Gente”. Também atuou em novelas como “Bang Bang”, de Mário Prata e Carlos Lombardi, em 2005, e “Negócio da China”, de Miguel Falabella, em 2008.

Em 2010, voltou a mostrar sua faceta cômica em “SOS Emergência”, e, no ano seguinte, fez uma participação especial no seriado “A Grande Família”.

Ney Latorraca — Foto: globo
Ney Latorraca — Foto: globo

A veia bem humorada de Ney Latorraca veio à tona também no especial de humor “Alexandre e Outros Heróis”, dirigido por Luiz Fernando Carvalho, em 2013. O ator viveu um típico mentiroso do sertão na comédia adaptada de dois contos do escritor Graciliano Ramos. Alexandre (Ney Latorraca) recebia amigos para contar como ficou com o olho torto depois de cavalgar uma onça na infância.

Em 2014, o ator fez uma participação especial na novela “Meu Pedacinho de Chão”, também dirigida por Luiz Fernando Carvalho. Viveu Cirilo, um homem chique e pai de Renato (Bruno Fagundes).

O último trabalho de Ney Latorraca em telenovelas na Globo foi em 2017, quando fez participação em “Novo Mundo” como o Sir Edward Millman.

Antes desses grandes sucessos, Ney Latorraca já havia mostrado seu talento. Em uma homenagem à cantora Maysa, no Fantástico, em 1975, o ator recitou um poema de Manoel Bandeira para a cantora.

Filho de um crooner e de uma corista que se apresentavam nos cassinos do Rio, Ney teve como padrinho de batismo o ator Grande Otelo. Na infância passou fome, mas eram os sonhos de menino que o alimentavam. Ao lançar um olhar para o garotinho que adorava representar para sobreviver, diz que valeu a pena:

“Valeu a pena ter feito tudo isso com a maneira de ser como profissional. Sou um apaixonado pelo que faço no cinema, no teatro e na televisão. Tenho orgulho de ter sido um ótimo filho, um bom amigo e um bom ator. Mas ator só acaba quando morre, né?”

*Por Gshow

Fale com a Redação