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sábado, 21 de setembro, 2024
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No centro da Capital, indígenas protestam contra conflito no campo e o marco temporal

Um grupo de indígenas promoveu uma manifestação na manhã deste sábado (21), em Campo Grande, contra o conflito registrado no último dia 18 em uma fazenda de Antonio João envolvendo a tropa do Batalhão de Choque da Polícia Militar (Choque). Na ocasião, um indígena de 23 anos acabou morto.

O protesto foi liderado pela sobrinha de Marçal de Souza, Suzie Guarani, na Praça Ary Coelho. Os indígenas estavam munidos de cartazes, faixas e bandeiras e também aproveitaram para arrecadar doações de alimentos para as famílias indígenas que vivem em situação de risco e vulnerabilidade.

As principais reivindicações foram o marco temporal, a falta de segurança dos indígenas, contra a Polícia Militar e também críticas ao movimento agrário do Estado. À imprensa, a sobrinha de Marçal de Souza disse que veio de Dourados para Campo Grande exclusivamente para participar do protesto pacífico.

“A manifestação é um ato de repúdio às violências que os indígenas têm sofrido no Estado”, comentou a liderança aos jornalistas. No ato, citou a memória do seu tio e cobrou pela resposta do crime. “Até hoje não teve Justiça”, ponderou. Marçal foi assassinado em 25 de novembro de 1983 na aldeia Campestre.

Jovem morto respondia por latrocínio

No centro da Capital, indígenas protestam contra conflito no campo e o marco temporal
Equipes do Choque no local do conflito (Foto: Divulgação)

O Batalhão de Choque da Polícia Militar (BPMChoque) se manifestou na quinta-feira (19) sobre o confronto ocorrido na quarta (18) em uma propriedade rural na cidade de Antônio João e que resultou na morte de um indígena, identificado apenas pelo primeiro nome de Néri. A situação gerou debate entre os deputados estaduais e motivou até mesmo uma reunião de emergência entre o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Segundo a comunicação do Choque, o indígena morto no confronto é um velho conhecido das autoridades policiais locais, inclusive, acumula diversas passagens por crimes variados e até mesmo responde pela participação em um latrocínio (roubo seguido de morte) praticado no ano de 2015, também em Antônio João. Nesta ocorrência, a vítima foi morta com um tiro na cabeça.

O Batalhão ainda declarou que o conflito aconteceu em decorrência do disparo de armas de fogo por parte dos indígenas. “Durante a dispersão do grupo, o referido indígena, que se encontrava em uma área de mata e armado, efetuou disparos contra as forças de segurança, atingindo o escudo protetor da tropa. Diante dessa ação, tornou-se necessário repelir a agressão, considerada injusta, por parte do indígena”, justifica.

O caso

O confronto envolvendo equipes da Polícia Militar e indígenas guaranis-kaiwás ocorreu em uma fazenda em disputa judicial, no Território Nhanderu Marangatu, em Antônio João, na manhã da quarta-feira (18).

O clima está tenso na região há pelo menos uma semana, quando houve o primeiro confronto e também o incêndio da ponte que dá acesso à fazenda que estava para ser ocupada pelos indígenas.

Na segunda-feira (16), os indígenas teriam ocupado parte da propriedade. Houve um diálogo entre policiais e as lideranças, que chegaram a firmar um acordo para que a área ocupada não fosse ampliada.

No centro da Capital, indígenas protestam contra conflito no campo e o marco temporal
Clima ficou tenso nas primeiras horas da manhã desta quarta-feira (Foto: reprodução/Cimi)

Entretanto, os indígenas teriam avançado mesmo assim, sendo necessário acionar a Tropa de Choque da PM para garantir a segurança. Na quarta, houve o novo confronto entre indígenas e policiais, que acabou resultando na morte de um dos indígenas.

Nas redes sociais, a Aty Guasu (Grande Assembleia Guarani-Kaiowá) diz que houve um massacre na área retomada pelos guaranis-kaiwás. Vídeos foram divulgados mostrando correria, gritos e fumaça.

Ao todo, o Território Nhanderu Marangatu tem 9,3 mil hectares e foi homologada em 2005, mas a demarcação foi suspensa por mandado de segurança impetrado no STF (Supremo Tribunal Federa).

Além disso, existe uma ação em andamento no TRF3 (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região pedindo a aplicação da tese do marco temporal e uma liminar da Justiça Federal em Ponta Porã que determina a permanência na Polícia Militar na área.

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