O nome “Natal” está repleto de sugestões reais e fantásticas, de fé e devoção, tanto artísticas quanto filosóficas e teológicas. Nome simples e complexo, comum e erudito, divino e humano e, ao mesmo tempo, é um nome cheio de mistérios.
Sua etimologia remonta ao adjetivo latino natalis, com o significado de natal, no sentido de “algo relativo ao nascimento”, que, por sua vez, deriva do particípio perfeito natus, do verbo nasci “nascer”.
O culto oriental ao Sol foi perpetrado na época romana, desaguando no culto ao deus Mithras. Também é representado como uma criança que mata um touro sagrado, daí o termo tauroctonia, ou seja, o culto reservado a Mithras.
A origem histórica do Natal não é totalmente certa e segura. Existem muitas e variadas hipóteses para explicá-lo. Talvez, a data de 25 de dezembro, como dia de celebração do nascimento de Cristo, tenha sido fixada para substituir uma festa pagã dedicada ao nascimento do Sol (Mithras). O Dies Natalis Solis Invicti, que o imperador Aureliano havia oficializado em 274, precisamente em 25 de dezembro.
As comemorações do nascimento do Sol, consistindo no acendimento de grandes fogueiras em sinal de festividade. Em torno das fogueiras, o povo se reunia para festejar comendo e bebendo, como em todas as festas populares.
Neste período, celebravam-se também as Saturnálias, (de 17 a 23 de Dezembro), em honra de Saturno, deus da agricultura, durante as quais ocorriam trocas de presentes e banquetes sumptuosos, em que participavam também os escravos como cidadãos livres, que também receberam presentes de seus mestres.
A data do Natal Cristão
A instituição do Natal cristão convergia para o culto solsticial. Os dois cultos, o da novidade cristã e o popular e camponês do mundo pagão se entrelaçaram às autoridades eclesiásticas, e, para evitar abusos e mal-entendidos, decidiram celebrar e proclamar 25 de dezembro apenas a Natividade de Cristo.
Com alguma probabilidade, este é um exemplo bastante significativo de como a política do cristianismo primitivo absorveu e transformou uma tradição pagã com um novo conteúdo.
Claro que essa substituição não foi isenta de consequências, pois as tradições custam a morrer. No Natal de 460, o Papa Leão I ainda recorda a presença do culto do Sol na cidade de Roma.
O Nascimento do Menino Jesus
As primeiras referências, portanto, à festividade do Natal cristão datam da primeira metade do século IV, quando a primeira menção histórica à celebração da Natividade de Cristo se encontra no ano 336, conforme especifica o Chronographes, o mais antigo Calendário cristão que chegou até hoje, escrito em 354 pelo calígrafo do Papa Dâmaso, o estudioso romano Furius Dionysius Philocalus.
Certamente, algumas referências escriturísticas devem ter influenciado a escolha do dia 25 de dezembro, como, por exemplo, o texto do profeta Malaquias, que chama o Cristo, que nasceria daquela que deve dar à luz em Belém, com o nome do “Sol da Justiça” (3, 20). Assim, temos a identificação da data de 25 de dezembro como o dia do nascimento do Menino Jesus.
Os textos de Paulo
O autêntico significado do Natal cristão tem seu fundamento no grande desígnio de Deus, revelado por Paulo em dois importantes textos.
A Primeira: “Bendito seja Deus, o Pai do Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos céus em Cristo. Nele [Cristo] nos escolheu antes da criação do mundo, para sermos santos e imaculados diante dele na caridade, nos predestinando para sermos seus filhos adotivos [do Pai] por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade. E isto para louvor e glória de sua graça, que ele nos deu em seu Filho amado” (Ef 1:3-6).
E a outra: “Ele [Cristo] é a imagem do Deus invisível, gerado antes de toda criatura, porque, por meio dele, foram criadas todas as coisas, as que estão no céu e as que estão na terra, as visíveis e as invisíveis: Tronos, Dominações, Principados e Poderes. Todas as coisas foram criadas por meio dele e para ele. Ele é o primeiro de todas as coisas e todas existem nele” (Cl 1,15-18).
Uma reflexão
Os dois textos têm algumas características em comum: o desígnio de Deus, riqueza de títulos e universalidade das afirmações. A intenção de Paulo é conhecer o desígnio secreto de Deus ad extra, baseado no “bom prazer da vontade do Pai”.
Está tudo centrado na predestinação de Cristo, da qual depende também a predestinação do homem, com a diferença de que a de Cristo é absoluta e a do homem condicionado.
Sempre atual
O discurso de Paulo está no presente porque a predestinação de Cristo, da qual provém todos os benefícios para o homem, é sempre atual. Por isso, celebra-se Cristo como o único Mediador entre Deus e os homens e entre os homens e Deus, ou como diríamos com o latim medieval omnia a Deo per Christum et omnia a Deo in Christum.
História Litúrgica
Desde o início, os cristãos celebravam o que o Senhor Jesus fez pela salvação da humanidade. Todos os domingos, na “Páscoa semanal” e a festa anual, no domingo após a primeira lua cheia de primavera, a Páscoa.
No início do século IV, o calendário litúrgico começou a mudar, dando mais valor à experiência “histórica” de Jesus. Na Sexta-feira Santa comemorava-se a morte de Jesus e também a Última Ceia.
O Nascimento de Jesus
Neste prisma, temos o Natal, o nascimento de Jesus, sobre o qual, em 336, temos o primeiro testemunho, depois do qual, veio a festa do Natal oriental da Epifania, em 6 de janeiro.
Esta data era associada à festa civil pagã do “Natal do Sol Invencível” (“Natale Solis Invicti”), que o imperador Aureliano havia introduzido, em 274, em homenagem à divindade siríaca do Sol de Emesa, celebrada, precisamente, no dia 25 de dezembro.
A Solenidade
A Solenidade do Natal é a única festa que podia ser celebrada com quatro Missas próprias: véspera, noite, amanhecer e dia. Os textos dessa solenidade são os mesmos para os três Anos Litúrgicos. Trata-se de uma escolha que visa aprofundar e valorizar, quase em câmara lenta, o Acontecimento que mudou o curso da história: Deus se fez homem!
O sentido do Natal
O Natal de Nosso Senhor Jesus recorda-nos que Deus está presente em todas as situações. Pensamos que Ele está ausente ou nas quais achamos que Ele não pode estar. A nossa fé estimula-nos a viver o tempo natalino com maior serenidade e esperança!
Deus está aqui, tão presente que, talvez ou com certeza, nos convida a rever nossos costumes; convida-nos a lembrar que, assim como Ele veio para nos salvar, também nós, através d’Ele, só podemos nos salvar se caminharmos juntos, se aprendermos a cuidar uns dos outros.
Somos convidados a ser uma “manjedoura”, onde os outros possam se alimentar do pão da amizade, do amor, da misericórdia, da esperança.
Um convite
O Senhor oferece-se a nós para que possamos dar seu testemunho com a nossa vida. Como cristãos, somos convidados a assumir a esperança desta humanidade desnorteada e solitária, a sermos sentinelas da nova manhã, para que as trevas deste tempo sejam rompidas pela Luz, que vem do Senhor Jesus.
Minha oração
“Ó Senhor que vos revelastes tão pequenino e frágil, um Deus escondido na humanidade, porém, não menos poderoso. Concedei a nós a sabedoria para te encontrar nesses mistérios e a certeza da tua presença no meio de nós, todos os dias. Salvai-nos de nossas mazelas e durezas tornando-nos mais humildes e humanos assim como tu o fizeste. Amém.”
*Por Canção Nova