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sábado, 23 de novembro, 2024
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Pós-pandemia desafia aprendizagem socioemocional nas escolas

Com o acúmulo de incertezas causado pela pandemia, as muitas mudanças de rotina e as alterações nas formas de socialização, ficou ainda mais evidente a importância de olhar para os sentimentos de crianças, jovens e adultos. No mês de prevenção ao suicídio, por meio da campanha do Setembro Amarelo, demandas voltadas ao controle emocional, intensificadas pelo isolamento social, surgem para transformar as práticas de educação socioemocional, trazendo um olhar também para o momento pós-pandemia e para as necessidades das comunidades escolares.

Celso Lopes de Souza, psiquiatra e cofundador do Programa Semente – referência em aprendizagem socioemocional nas escolas, conta que as instituições de ensino precisam pensar em propostas pedagógicas que reforcem as habilidades socioemocionais que foram comprometidas durante o último ano e meio. “A falta de interação física afetou as aptidões sociais e emocionais de todos, principalmente da comunidade escolar”.

Para o psiquiatra, a pandemia jogou uma lupa para a regulação das emoções, já que a maioria das famílias vivenciaram experiências intensas durante esse período. E o suicídio tornou-se um problema ainda mais sensível, uma vez que, com todos em casa, os sinais de dificuldades emocionais ficaram mais difíceis de ser identificados. 

O ensino socioemocional e a prevenção ao suicídio

Um estudo publicado na revista científica JAMA Pediatrics, da Associação Americana de Medicina, em junho, mostra que sintomas depressivos saltaram de 12,9% a 25,2% entre jovens de até 18 anos durante a pandemia. Dessa forma, escolas que trabalham com alfabetização socioemocional têm mais recursos para abordar esse tema com os estudantes, gerando novos canais de escuta para auxiliar crianças e adolescentes a lidar com as emoções. 

Isso pode acontecer por meio de programas estruturados, em que há um processo gradual e sistemático para criar um ambiente de diálogo, fazendo os alunos se sentirem seguros para contar como passaram esses últimos meses. Trabalhar a capacidade de lidar com o medo, com a raiva e com a tristeza, pode ser um primeiro passo para essa formação. Nesse momento de retomada das aulas presenciais, dialogar sobre esse tema é fundamental para o acolhimento dos estudantes e professores.

Nas aulas sobre modulação emocional, que constam na metodologia do Programa Semente, esse assunto é tratado de forma a mostrar que emoções são estados transitórios e, portanto, passam. Celso explica que o desenvolvimento de competências socioemocionais está comprovadamente relacionado à prevenção de transtornos mentais, como a depressão.

“Toda vez que a cabeça estiver achando que algo é insuportável de aguentar, impossível de sair disso e que não vai acabar nunca, ela está nos pregando peças. Então a capacidade de flexibilizar esse sentimento pode fazer diferença no enfrentamento dessa crise”, explica.

Há também outras habilidades que podem ser trabalhadas nessa retomada, como a  confiança, para que, quando o estudante estiver sentindo dificuldades em lidar com os sentimentos, ele seja capaz de procurar ajuda com amigos, familiares e especialistas. Segundo o médico, quanto mais cedo for o início do desenvolvimento intencional das competências socioemocionais, maiores serão os recursos que os indivíduos terão para lidar com as dificuldades.

O Programa Semente nas escolas

Celso Lopes de Souza e o grupo de educadores por ele liderado construíram uma metodologia capaz de trazer conceitos internacionalmente aceitos pela comunidade científica para ensinar crianças e adolescentes a desenvolver a autogestão, a criatividade, a modulação emocional e as habilidades interpessoais, competências fundamentais para o enfrentamento dos desafios do século 21.

Durante os dois anos de pandemia o Programa Semente realizou lives abertas ao público nas redes sociais sobre o Setembro Amarelo, com orientações e explicações relacionados ao tema do suicídio. As lives contaram com a participação de médicos e especialistas, como o psiquiatra e também coautor do Programa Semente, Fernando Fernandes, que contribui ativamente nas ações de prevenção ao suicídio em suas redes e também no Centro de Valorização da Vida (CVV).

O programa, que atualmente conta com mais de 50 mil estudantes brasileiros, estrutura-se na mesma matriz conceitual que a OCDE utiliza – por meio do PISA – para medir e pesquisar o impacto do desenvolvimento das competências socioemocionais nos indivíduos. Algumas dessas ferramentas foram desenvolvidas com a colaboração de pesquisadores da UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro . 

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