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Professores indígenas falam sobre luta para concluir a faculdade e lecionar

15/10/2014 15h00

Professores indígenas falam sobre luta para concluir a faculdade e lecionar

Dourados News

tarefa de educar não é fácil e exige muito esforço e paciência dos docentes. Hoje (15) Dia do Professor, segundo o site Dourados News que entrevistou dois professores indígenas que falaram sobre essa responsabilidade e também sobre a luta que enfrentaram para concluir a graduação.

A professora Lidimara Francisca Valéria leciona na Escola Municipal Indígena Ramão Martins há três anos.

Atualmente, dá aula para a turma de educação infantil e conta que apesar dos desafios do cotidiano, a sua profissão é a realização de um sonho de criança. “Eu sempre quis ser professora, acredito que vem de família minha avó também trabalha como professora até hoje e conseguir me formar e trabalhar foi uma grande conquista para mim, mesmo com todas as dificuldades”, conta.

Lidimara lutou muito para conseguir fazer a graduação, que concluiu em 2011. A primeira tentativa foi em uma universidade particular, mas desistiu por não ter condições financeiras. Depois estudou e conseguiu passar numa instituição pública e após se inscrever e fazer algumas provas, conseguiu uma bolsa enquanto estudava, o que a ajudou muito.

A professora conta que a rotina era corrida, pois trabalhava, estudava e cuidava do marido e do filho. O maior desafio para ela foi se adaptar a linguagem já que é nascida e criada na Aldeia Jaguapiru, Reserva Indígena de Dourados e falava a língua terena. “Foi bem difícil no começo, a linguagem, tudo era diferente pra mim. Mas não pensava em desistir, lutei muito para aprender, fazer as provas, não perder aula,” relata.

Ela relata que conviveu também com a questão do preconceito, mas superou tudo isso. “Foi triste ver que o preconceito existe ainda, demonstrado muitas vezes de forma indireta, mas usei tudo isso a meu favor, pois consegui superar e hoje me sinto ainda mais forte”, afirma.

A turma de Lidimara começou com 10 alunos indígenas, sendo que destes, apenas ela e mais três concluíram o curso. Ela cita que essa conquista foi motivo de muita alegria, mas que não pretende parar por aí. “Eu sabia que não seria fácil, sinto orgulho de mim mesma de ter chegado até o fim. Hoje busco me aprimorar cada vez mais, faço cursos e me atualizo, quero sempre buscar aprender mais, para montar planos de aulas diferentes, atrair a atenção do aluno”, enfatiza.

Lidimara cita que as condições enfrentadas pelos professores indígenas não são fáceis. Para ela ser professor na aldeia vai muito além de apenas dar aula. “Lidamos com salas de aulas superlotadas, crianças sem estrutura financeira e familiar, então sinto que minha missão vai além de vim e apresentar o conteúdo, acabo sendo um pouco psicóloga e um pouco mãe deles até em muitas vezes”, relata.

O professor e coordenador do programa Mais Educação na Escola Ramão Martins, Ramão Gabriel Bernardo conta que também lutou muito para se formar. Ele veio da cidade de Dois Irmãos do Buriti, distante mais de 200 quilômetros de Dourados para fazer a sonhada faculdade de educação física.

“Vim pra uma cidade onde não conhecia ninguém para estudar, corri atrás do que eu queria, estagiei e trabalhei durante o curso, enfim não foi fácil chegar até o final, mas consegui”, destaca.

Para Gabriel paciência, dedicação e perseverança são características indispensáveis em um professor. O profissional destaca que a gratificação vem ao ver o trabalho surtindo efeitos.

“Não tem como explicar o quanto me deixa feliz ver meus alunos evoluindo. Temos programas extraclasses com aulas de violão, esportes entre outros. Tudo isso tem feito com feito os alunos melhorarem as notas e o comportamento. É muito gratificante plantarmos uma semente boa em uma realidade tão difícil”, finaliza.

Lidimara afirma que sua missão vai além de ir e apresentar o conteúdo (Foto:Rodrigo Bossolani)

Para Gabriel paciência, dedicação e perseverança são características indispensáveis em um professor. (Foto: Rodrigo Bossolani)

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