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quarta-feira, 18 de setembro, 2024
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Superquarta: Banco Central decide se taxa básica de juros voltará a subir

Expectativas do mercado financeiro apontam para o início de um ciclo de alta de juros, com elevação de 0,25 ponto nesta quarta-feira

A taxa Selic pode voltar a subir nesta semana após dois anos. O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) se reúne nesta terça (17) e quarta-feira (18) para decidir o patamar da taxa básica de juros da economia brasileira. As expectativas do mercado financeiro apontam para o início de um ciclo de alta de juros, com uma elevação de 0,25 ponto percentual, passando dos atuais 10,5% para 10,75% ao ano.

Caso seja confirmada, será a primeira alta desde agosto de 2022, quando atingiu 13,75%. Depois o índice foi mantido até agosto de 2023, quando se iniciou um clico de queda, até maio deste ano, com a manutenção em 10,5% nos últimos três encontros do Copom.

“O ciclo de alta a princípio não deve ser grande, totalizando 1,5 ponto percentual. Projetamos taxa Selic de 11,75% ao final de 2024, começando ao ritmo de 0,25 ponto em setembro, seguido por duas altas de 0,50 ponto ainda neste ano e uma alta final de 0,25 ponto percentual na primeira reunião do ano que vem”, prevê o Itaú Unibanco, em relatório da última quinta-feira (12).

Segundo o banco, o real segue pressionado, próximo das máximas recentes, refletindo os ruídos na comunicação do BC e as incertezas sobre os rumos das contas públicas. “Além disso, os dados mais recentes de atividade indicam que a economia se encontra mais aquecida do que o Banco Central esperava na última reunião, e as expectativas de inflação seguem desancoradas”, avalia a instituição.

O consenso do mercado é de que a inflação só ficará dentro da meta estabelecida pelo Banco Central, de 3%, se os juros subirem neste mês. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de agosto em queda de 0,02%, o indicador acumula altas de 2,85%, no ano, e de 4,24%, em 12 meses — abaixo do teto superior da meta.

Para Lucas Almeida, especialista em mercado de capitais e sócio da AVG Capital, a inflação permanece acima da meta, apesar de algumas melhorias no núcleo. “Além disso, o mercado de trabalho aquecido, com mais pessoas empregadas e aumento de salários, eleva o consumo e pressiona os preços”, avalia Almeida.

Valeria Vanessa Eduardo, professora do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Anhanguera explica que, a meta de inflação para 2024 é de 3%, com um intervalo de tolerância de 1,5 pontos percentuais para mais ou para menos, ou seja, entre 1,5% e 4,5%, conforme definido pelo CMN (Conselho Monetário Nacional). “Como a inflação acumulada nos últimos 12 meses está em 4,24%, acima dessa meta, pode ser necessário um aumento na Selic (taxa de juros) para controlar a situação”, explica Valeria.

Segundo ela, diversos fatores macroeconômicos indicam a necessidade de aumentar a taxa Selic, incluindo a alta do dólar, que desvaloriza o real e torna os produtos importados mais caro.

“Além disso, quando o governo gasta muito em previdência social, saúde, educação, salários de servidores públicos e programas de assistência social, como o Bolsa Família, isso pode aumentar a demanda e fazer os preços subirem, resultando em inflação. O Banco Central propõe o aumento da Selic para equilibrar a situação”, acrescenta a professora.

Aumento da demanda

A previsão é de aquecimento da demanda devido ao bom momento do mercado de trabalho. A taxa de desemprego está em queda, com 6,8%, no trimestre encerrado em julho, o menor patamar desde 2012.

“O hiato do PIB, que mede a diferença entre o potencial e a produção real da economia, também aponta para um cenário de superaquecimento, o que gera mais inflação. Por fim, as incertezas fiscais, com o déficit público maior do que o esperado, aumentam a necessidade de controle inflacionário para manter a confiança dos investidores”, afirma Almeida.

Ele entende que, no curto prazo, o impacto direto para o bolso do brasileiro acaba sendo pequeno. Mas no médio e longo prazo, o custo do dinheiro fica mais alto, encarecendo empréstimos, financiamentos e dívidas atreladas ao CDI.

“Muitas empresas com dívidas corrigidas pelo CDI têm impacto em seus fluxos de caixa e acabam repassando esses custos aos consumidores. Com o tempo, esse aumento no custo de produção e serviços impacta toda a cadeia produtiva, diminuindo o consumo das famílias e gerando uma retração na economia”, conclui Lucas Almeida.

“Caso a taxa de juros volte a subir, o consumidor vai sentir no bolso. “Se precisar pegar um empréstimo ou financiar algo, como um carro ou uma casa, os juros serão mais altos, portanto, pagará mais no final. Caso atrase as parcelas do cartão de crédito, os juros mais altos impactarão o valor do boleto. Finalmente, como o principal objetivo do aumento da taxa de juros é conter a inflação, a boa notícia é que, com menos gente gastando, os preços tendem a subir menos, diz Valeria Vanessa.

Crítica

A elevação dos juros é criticada pelo governo federal e por alguns setores da economia, como a indústria. “Não há mais espaço para novos aumentos da Selic”, disse o presidente da CNI, Ricardo Alban, na última semana.

“Com os sinais de desaceleração da inflação e o cenário global de cortes nas taxas de juros, o Brasil deve aproveitar o momento para reduzir a Selic. A manutenção de uma política monetária tão conservadora coloca o país em uma posição desfavorável na competitividade global e penaliza o crescimento econômico”, acrescenta Alban.

O veredito a respeito dos novos juros básicos será anunciado na quarta-feira (18), após as 18h30. A decisão valerá ao menos pelos próximos 45 dias, quando os diretores do BC voltam a se encontrar para discutir novamente a conjuntura econômica nacional.

Histórico

De março de 2021 a agosto de 2022, o Banco Central elevou a Selic por 12 vezes consecutivas, num ciclo de “aperto monetário” em resposta à alta dos preços de alimentos, energia e combustíveis. Por um ano, de agosto de 2022 a agosto de 2023, a taxa foi mantida em 13,75% ao ano por sete vezes seguidas.

Desde agosto de 2023, começou a sequência de cortes de 0,50 ponto percentual em cada reunião, até maio, quando a redução foi de 0,25 ponto porcentual, em placar dividido, quando quatro diretores indicados pelo governo Lula votaram por corte maior, de 0,50.

Entenda a Selic

A taxa básica de juros é uma forma de piso para os demais juros cobrados no mercado. Ela serve como o principal instrumento do BC para manter a inflação sob controle, perto da meta estabelecida pelo governo. Isso acontece porque os juros mais altos encarecem o crédito, reduzem a disposição para consumir e estimulam alternativas de investimento.

Quando o Copom aumenta a Selic, o objetivo é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Já quando os juros básicos são reduzidos, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo.

A Selic é usada nos empréstimos entre bancos e nas aplicações que as instituições financeiras fazem em títulos públicos federais.

É a taxa Selic que os bancos pagam para pegar dinheiro no mercado e repassá-lo em empréstimos ou financiamentos. Por esse motivo, os juros que os bancos cobram dos consumidores são sempre superiores à Selic.

Fonte: R7

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