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quarta-feira, 11 de dezembro, 2024
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Taxa de juros pode ter maior alta em dois anos devido pressão do dólar e inflação

Será o terceiro aumento consecutivo, desde setembro, e o maior desde março de 2022, quando aumentou 1 ponto percentual

O Copom (Conselho de Polícica Monetária), do BC (Banco Central), começa nesta terça-feira (10) a reunião que poderá decidir aumentar a taxa básica de juros da economia brasileira em 0,75 ponto percentual, passando dos atuais 11,25% para 12% ao ano. Essa é a expectativa dos economistas para a Selic. Mas há analistas que apostam em até 1 ponto percentual.

Será a terceira alta consecutiva, desde setembro, e a maior desde março de 2022, quando aumentou 1 ponto percentual. A reunião, que termina na quarta-feira (11) com o anúncio da nova taxa, será a última com Roberto Campos Neto na presidência do BC. Ele deixará o cargo no dia 31 de dezembro, para o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, assumir.

Com a escalada do dólar e da inflação, o Banco Central poderá intensificar o aumento da Selic para conter o consumo e o aumento de preços. A Selic é o principal instrumento para controlar o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Juros mais altos encarecem o crédito e desestimulam a produção e o consumo. No entanto, taxas maiores dificultam o crescimento econômico.

No Boletim Focus desta semana, a projeção para a taxa Selic aumentou de 11,75% para 12%, indicando que o Copom deve elevar os juros em 0,75 ponto porcentual. Já a previsão de inflação do país, medida pelo IPCA de 2024, subiu de 4,71% para 4,84%, acima do teto da meta, de 4,50%.

Taxa de juros pode ter maior alta em dois anos devido pressão do dólar e inflação

Para Idean Alves, especialista em mercado de capitais e planejador financeiro, a tendência é que o remédio seja mais amargo agora para que nas próximas reuniões não sejam necessárias novas altas.

“A minha expectativa e do mercado de forma geral é de ter uma alta de 0,75% na taxa Selic, por conta da ancoragem das expectativas de inflação se dar apenas no médio prazo. Como ela está levemente acima do teto, a perspectiva para o ano que vem é de que ela siga pressionada se nada for feito”, afirma Alves.

A economista Cláudia Moreno, do C6 Bank, também projeta elevação de 0,75 ponto percentual, mas não descarta uma aceleração mais intensa, de um ponto percentual.

“Desde a última reunião do Copom, em novembro, a gente viu o câmbio mais depreciado e a expectativa de inflação se deteriorando. Isso para vários horizontes, de 2024, 2025 e 2026. Então, a gente acha que houve uma deterioração no cenário, e as projeções de inflação devem subir. Com isso, faz sentido acelerar o ritmo de ajuste nos juros”, avalia a economista.

Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, acredita que, além de a Selic fechar o ano em 12%, o ciclo de alta de juros deve continuar diante de uma piora da balança de riscos do Banco Central. “O ambiente está desafiador para o Banco Central, com hiato do produto positivo, expectativas de inflação desancoradas, cenário fiscal deteriorado, que piorou nas últimas semanas, câmbio mais desvalorizado, e incertezas globais”, afirma Sung.

“Desde a reunião do Comitê em novembro, as incertezas domésticas aumentaram, o que agravou o balanço de riscos do BC. A questão fiscal é um dos principais fatores que influenciaram negativamente as nossas projeções, contribuindo para um cenário mais pessimista”, acrescenta.

A cotação do dólar vem renovando recordes consecutivos de fechamento desde que o governo federal apresentou as medidas de ajuste fiscal. As propostas para gerar uma economia de R$ 70 bilhões aos cofres públicos em dois anos não foram bem recebidas, após anúncio ter sido feito com o da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.

Marcelo Bolzan, estrategista de investimentos, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital, acredita que aquele movimento de subida nos juros futuros deve se intensificar. “O cenário de medidas protecionistas de Trump também tem impacto inflacionário, além de termos um dólar mais alto no mundo. Desde o último Copom para cá, as condições aqui pioraram bastante”, afirma.

Para ele, além de a Selic fechar o ano em 12%, ele projeta uma taxa de 14% para o fim do ano que vem. “Com isso, podemos ter o PIB desacelerando em 2025 em função da Selic bastante elevada. Acredito que teremos espaço para corte de juros somente em 2026″, acrescenta.

Como ficam os investimentos

Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, afirma que, nesse cenário, as aplicações atreladas à Selic, como os CDBs, ficam mais interessantes para investidores conservadores, que não gostam de riscos.

“Mas vale destacar que títulos públicos e privados de renda fixa brilham neste momento, em especial os de taxas acima de 5 anos. Tem ótimas oportunidades em títulos de inflação, sempre lembrando que algumas empresas privadas podem quebrar nesse meio de caminho, então analise rentabilidade com segurança alinhada ao seu perfil”, afirma Patzlaff.

Idean Alves, especialista em mercado de capitais e planejador financeiro, acredita que nesse contexto investimentos pós-fixados, de preferência com liquidez e vencimentos curtos são ideais, o que permitiria margem de manobra em uma eventual mudança de cenário, e permitiria surfar novas altas da Selic.

Vencimentos longos em um cenário de incerteza de política monetária e econômica tendem a ficar “velhos” rápidos, e caso de fato haja uma deterioração de fundamentos como muitos apontam, a liquidez vai permitir realocações em caráter de oportunidade para os investidores.

Para Marcelo Bolzan, diante desse cenário, os portfólios ficam mais conservadores. “A gente vem gradualmente aumentando exposições em estratégias pós-fixadas, em CDIs. A gente tem recomendado 43,5% em estratégias pós-fixadas. Para uma carteira moderada, a gente acredita em 30% para produtos atrelados ao IPCA em vértices mais intermediários. Não é preciso alongar tanto para conseguir boas taxas”, acredita.

Histórico

Após passar um ano em 13,75% ao ano, entre agosto de 2022 e agosto de 2023, a taxa teve seis cortes de 0,5 ponto e um corte de 0,25 ponto, entre agosto do ano passado e maio deste ano. Nas reuniões de junho e julho, o Copom decidiu manter a taxa em 10,5% ao ano, começando a aumentar a Selic na reunião de setembro, quando a taxa subiu 0,25 ponto. Em novembro, a elevação foi de 0,50, passando para os atuais 11,25%.

Entenda a Selic

A taxa básica de juros é uma forma de piso para os demais juros cobrados no mercado. Ela serve como o principal instrumento do BC para manter a inflação sob controle, perto da meta estabelecida pelo governo. Isso acontece porque os juros mais altos encarecem o crédito, reduzem a disposição para consumir e estimulam alternativas de investimento.

Quando o Copom aumenta a Selic, o objetivo é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Já quando os juros básicos são reduzidos, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo.

A Selic é usada nos empréstimos entre bancos e nas aplicações que as instituições financeiras fazem em títulos públicos federais.

É a taxa Selic que os bancos pagam para pegar dinheiro no mercado e repassá-lo em empréstimos ou financiamentos. Por esse motivo, os juros que os bancos cobram dos consumidores são sempre superiores à Selic.

Fonte: R7

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