A facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) estava utilizando cascos de navios para transportar drogas para outros países. A descoberta do esquema aconteceu após investigação da Polícia Federal que começou a partir da prisão de um homem na apreensão de um adolescente na cidade de Bataguassu.
Conforme consta, os envolvidos atuavam em navios ancorados no Porto de Santos (SP) e contava com a ajuda de mergulhadores para esconder a droga no casco. Uma embarcação foi flagrada com 100 quilos de cocaína na Coreia do Sul. Contra o grupo, foi deflagrada ontem (7) a Operação Taeguk.
Ao todo, foram cumpridos 10 mandados de prisões e 39 de busca e apreensão nas cidades de São Paulo, Guarujá, São Vicente, Praia Grande, Bertioga, Caraguatatuba e Paraibuna. Além disso, os alvos também eram do Rio de Janeiro, Duque de Caxias, Belém, São Luís, no Maranhão. Cinco foram presos na Baixada Santista, quatro em Guarujá e um em Santos. Um dos alvos já estava preso. Os outros estão foragidos.
A investigação
A droga era colocada em bolsas à prova d’água e até mesmo rastreador era instalado pela organização para monitorar a mercadoria. Como os aparelhos eram da marca Apple, a polícia conseguir ter acesso à localização da droga e chegar até a quadrilha. Em 10 meses, os criminosos traficaram mais de uma tonelada de entorpecente.
Para colocar a droga nos navios, a quadrilha inclusive usava uma lancha, aponta a PF. Os investigadores conseguiram rastrear viagens realizadas pela embarcação, chamada San Piter, em dias anteriores à ocultação da droga. Uma das viagens, por exemplo, ocorreu entre a baixada e o porto de Paranaguá (PR).
Os nomes de dois dos presos foram descobertos após uma carga de 100 quilos de cocaína ser apreendida, em janeiro, na Coreia do Sul. Na bagagem também havia oito AirTags – sete comprados e provavelmente instalados em Hong Kong e um comprado na Flórida (EUA), mas instalado no Brasil.
Com o e-mail vinculado à Airtag em mãos, a PF conseguiu mensagens, documentos, fotos, históricos de buscas, contatos e endereços que apontaram dois homens como chefes de um complexo núcleo criminoso atuante na baixada santista, além de estados como Paraná e Mato Grosso do Sul, tendo como objetivo final o envio de cocaína para o exterior.
A partir da dupla, os investigadores chegaram a um mergulhador responsável pela inserção da droga apreendida na Coreia do Sul. A polícia conseguiu ainda ligar a quadrilha a uma série de outros crimes de tráfico, com a apreensão de cinco quilos de cocaína no navio Cosco Shipping Seine, no Porto de Shangai, na China.
Entre as apreensões feitas estão: 400 kg de maconha apreendidos em Bataguassu; 289,3 kg de cocaína a bordo do navio Trans África, em Las Palmas, Espanha; 114,6 kg de cocaína no navio Feng Huan Feng, em Santos; 124,6 kg de cocaína no navio Great Zhou; e a apreensão de 39 kg de cocaína a bordo do navio Orchid, em Belém do Pará.
A PF ainda identificou um entreposto utilizado pelos investigados entre os municípios de Iguape e Ilha Comprida, assim como possíveis bases grupo em Paraibuna (SP), Barcarena (PA) e Fortaleza (CE).
Os investigados transportaram e inseriram em compartimentos subaquáticos de embarcações transatlânticas mais de 670 quilos de cocaína e trouxeram do Paraguai mais 400 quilos de maconha, totalizando mais de uma tonelada de droga. O grupo estava se movimentando para operacionalizar mais duas remessas de cocaína ao exterior, uma de Caucaia (CE) ou São Luís (MA) e outra a partir de Rio Grande (RS).
As pessoas relacionadas aos fatos investigados poderão responder, cada qual dentro da sua esfera de responsabilidade, pelos crimes de tráfico transnacional de drogas, associação para fins de tráfico, bem como o crime de organização criminosa. As penas cominadas podem ultrapassar 35 anos de reclusão, sem contar com a majorante ligada à transnacionalidade dos delitos.